Domingo, 15 de Setembro de 2013

isto de quem vê o TLC

Na sala com o espertinho do meio a ver a FOX. Acaba a série e eu digo que vou mudar para a TVI para a casa dos segredos. E ele, aos berros, enquanto foge a sete pés para o quarto: "Sopeira super power activate! Ruuuun!"

publicado por Vieira do Mar às 11:20
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panic room

acabou de me entrar em casa uma boazona de 16 anos muita gira e cheia de pinta, de calções de ganga extremamente curtos, meias pelo joelho, a cheirar a perfume, com cabelos pretos compridos e ondulados, que se fechou com o do meio no quarto dele. mayday! mayday!

publicado por Vieira do Mar às 11:18
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...

Diálogo entre mãe e filha de 19 anos:

- Mãe, tens um livro do... do Proust, acho que se chama "Do lado de Swann".

- Tenho, é o primeiro volume do "À procura do tempo perdido". Para que é que o queres?

- O professor disse que temos que o ler. E depois fazer um trabalho de interpretação.

- Ahahahahaha!

- ...

publicado por Vieira do Mar às 11:10
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as time goes by

Agora com 20, 17 e 13 (but still rockin´).

publicado por Vieira do Mar às 02:50
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da série: "os meus filhos são tão engraçadinhos que ainda lhes cai um dentinho"

- Diogo, viste um saco pequeno de ração para gatos bebés que estava aqui na cozinha?

- Sim, comi-o.

publicado por Vieira do Mar às 02:48
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palavra-chave

Com uma troupe adolescente a caminho do sudoeste, a ouvir a M80 na ponte. alguém diz que o Duchovny dos ficheiros secretos faz hoje 53 anos.

 

Diogo vira-se para trás: "bem... o gajo dos ficheiros secretos já tem 53 anos!".

 

Todos: "Quem?! "

 

"O Mulder, dos ficheiros secretos!", repete.

 

Todos: "Não sei quem é..."

 

E eu, já cansada da conversa de surdos: "o gajo do Californication, pá!".

 

E todos: "haaaaaaaaa!".

publicado por Vieira do Mar às 02:46
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a subjectividade da atracção (não) explicada a um miúdo de 13 anos

- Mãe, tu achas o pai giro?

 

- Errrr… Sim, acho que sim.

 

- Mas sempre achaste?

 

- Sim, não há dúvida que o teu pai é um homem muito giro.

 

- Mas se não tivesses sido casada com ele e ele passasse por ti na rua, gostavas de o ter como namorado?

 

- (raisparta o miúdo!) Se não o conhecesse, talvez olhasse duas vezes, agora “namorado”, não sei.

 

- Porquê?! - Porque para se ter um namorado, a beleza não chega. -

 

- Então, o que é que falta ao pai?!

 

- Olha, querido, eu sei que é dia de semana, mas como já fizeste os trabalhos todos, podes ir jogar playstation até ao jantar, ok?

publicado por Vieira do Mar às 02:44
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o meu sheldon cooperzinho

Mãe chega a casa cansada e vai ao quarto do filho mais novo, que lê um livrinho da Mónica - neste caso, da Magali e do Mingau (isto é só para experts).

 

Mãe deita-se ao lado do filho, encosta a cabeça ao peito deste e pede-lhe que lhe leia uma história, enquanto fecha os olhos, aquietada no remanso infantil.

 

Criança enfatuada e imune às carências maternas, responde: “Tá beeeem… mas só te leio as interjeições e as onomatopeias.”

 

...

publicado por Vieira do Mar às 02:42
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2011: o fim da paz podre

Pois vinha eu de um café no Chiado, relaxadinha da vida, quando recebo uma chamada do gorgulho de 15 anos:

 

"Mãe, eu e uns amigos meus tamos aqui em casa. Fomos ao aki, comprámos umas tábuas, o berbequim, parafusos e buchas para montar umas prateleiras. Podemos começar a furar ou esperamos que chegues a casa?"

 

...

publicado por Vieira do Mar às 02:39
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my own personal hell

A mais velha chega a casa a chorar desalmadamente por causa de mais uma picuinhice com o emplastro. Depois de uma hora de soluços audíveis e de "não quero falar com ninguém", chega o emplastro e, presumivelmente, fazem as pazes. O do meio chega a casa e trás consigo uma matilha de emplastros borbulhentos e espinafrudos que quase batem com a cabeça no tecto. Mochilhas atiradas ao calhas. Baixos, guitarras eléctricas e baterias a serem afinados no quarto. Coisas que caem, gargalhadas alarves, outras que batem contra a parede, não quero nem saber. Do que se passa no quarto da filha mais velha, à porta fechada, ainda quero saber menos. O mais novo chega da escola cheio de fome. Numa hora, uma caixa de cereais e um litro de leite vão à vida. Traz consigo um amigo nerd cuja única qualidade é comer pouco. Os aspirantes a banda de garagem assaltam a cozinha em me vendo de costas. As pizzas congeladas do pingo doce, compradas para uma ocasião de extremo cansaço em que não me apeteça cozinhar, vão todas. Só dou por falta delas muito depois, na tal ocasião de extremo cansaço, claro. Filha mais velha pergunta se namorado emplastro pode cá jantar. E se a amiga que está a chegar, também. Os adolescentes de barriga cheia resolvem descer à garagem para ver a aprilia nova do filho do meio. Não podem sair dali porque ele ainda não tem carta e andam às voltas lá dentro. Vizinhos a queixarem-se de que eles são muitos, fazem muito barulho e que não fecham a porta de acesso à garagem, pondo em causa a segurança do prédio. Voltam a subir, dou-lhes uma esfrega que lhes entra pelo cérebro (que na verdade ainda não têm), lhes atravessa o corpo e sai directamente para a terra, como uma descarga eléctrica sem dor nem consciência. Voltam aos Led Zepellin (que devem estar a rebolar na campa, ou lá no sítio onde estão, coitados). Chega a amiga emplastra, fecham-se os três no quarto a ver um filme. A partir das sete, começa o mantra caseiro, que se repete de cinco em cinco minutos: "Mãe, o jantar já está pronto?". Tapo os ouvidos e entro no hard rock café: "Quem fica para jantar?". "Mãe, se não te importares o castro janta cá e depois vamos às esplanadas". O nerd fica cá a dormir, isso já sei, está com o mais novo numa outra dimensão, a jogar online com um paquistanês e uns suecos. Faço contas à vida, abro o frigorífico. Sustância, népia. Ao todo, somos oito. Saio à pressa para o talho, quero 16 hamburgueres. Chego a casa, o mantra a repetir-se vezes sem conta, vindo de todas as partes da casa, as vozes ecoam na minha cabeça, numa onda esquizofrénica. Jantar, jantar, jantaaaaar!...Esparguete para a panela, hamburgueres com cogumelos e natas, 15 minutos (sou mais rápida que uma bimba, acreditem). Cada grupelho quer comer na sua zona de conforto. Tabuleirinhos para todos com os respectivos regrigerantes a gosto, guardanapos, talheres. Uma trabalheira para eles, que têm de vir buscar o seu tabuleiro à cozinha. Como é que é possível, eu não lhes levar a comida aos quartos? Comem em cinco minutos, louça na máquina. mais uma corrida para ver se a aprilia ainda está no lugar e irem às "esplanadas", onde pedem uma jola para todos (isto sou eu em negação, deixem lá). Filho mais novo e amigo nerd mostram resistência à àgua e dá-se início a um complexo processo de negociação que mete banho antes de irem para a cama. Mais meia hora de nerdice no pc, mais uma dúzia de zombies mortos. ok. Amiga da mais velha vai-se embora e os outros dois continuam no quarto, a ver o resto do filme (isto também sou eu em negação, mas pronto). Entra o mais velho às onze, disparado porta dentro (é sempre assim) com a tropa acneica: vieram buscar as mochilas, de que se esqueceram. Eu, de roupa interior a vestir o pijama, só tenho tempo de me atirar para a porta do quarto. Já composta, ponho-os a todos na rua, com um ultimato de cinco minutos e mando os nerds para o banho. Bato à porta da mais velha e espero muuuito tempo até a abrir (em negação, mas não parva). Dou mais meia hora ao emplastro, porque amanhã é dia de faculdade. "Oh mãe, é só acabar o filme...". Olho para a televisão e estão a ver o Saw III: Já se sabe como acaba: morrem todos cortados aos bocados portanto, dentro de meia hora, andor. Espero que as hordas se retirem enquanto acabo de arrumar a cozinha e penso seriamente em transformar a minha casa numa pousada da juventude. Pode ser que saque alguns fundos comunitários ou isso. Por volta da meia-noite, quando começo a abancar no sofá, dá-lhes para me virem, à vez, contar os problemas do dia. O que normalmente é eufemismo para ceia. Leites com chocolate, "Ficam melhores quando és tu a fazer, mãe!" (sacanas!) e pão com manteiga (quando sobra algum,, o que é raro). À uma já sei que o G chinou o D, que a B voltou a andar com o C, que o setôr de informática é um retardado mental e que tenho recados para assinar por "falar demais nas aulas". De ambos os rapazes em colégios distintos (deve ser um gene). Isto tudo, portanto, começa depois de um dia de trabalho que acaba às seis. Percebem agora? Tweetar

publicado por Vieira do Mar às 02:37
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meu, puto, chavalo, tipo, esquece

Estou numa esplanada a tomar café e a ouvir inadvertidamente (e algo contrariada, admito), a conversa de dois adolescentes nerds com um crespúsculo de barbicha que lhes escurece as borbulhas.

 

A comunicação entre ambos é dolorosa, parece que vomitam enquanto falam, nunca fecham completamente a boca e cada palavra é intercalada por “pá”, “meu”, “chavalo”, “cena”, “puto”, “esquece” e “tipo”. A confissão do nerd número um prossegue alto e bom som, e nem todo o meu pudor lhe consegue fugir. “Meu, a Sara entrou no karaoke da praia norte e eu, tás a ver, deixei de ouvir as conversas. Chavalo, deixei de ouvir tudo, só olhava para ela e a mine tremia-ma na mão, todo eu tremia, puto, suava da cabeça aos pés, tive que vir cá fora apanhar ar, sentia-me doente”.

 

Tento captar o som das notícias no ecrã da espalanada, mas o pobre insiste em dar-se a conhecer ao mundo, ou, pelo menos, ao segundo nerd, a mim e à velhinha que lia o correio da manhã e comia o éclair.

 

“Quando eu e a Sara estamos juntos não sei o que se passa, deixamos de ver os outros, não existe mais ninguém, chavalo, é uma cena que vai muito além da cena física tás a ver, como o sex (aqui baixa um pouco a voz, mas não o suficiente) com a Patrícia. “Ah, a Patrícia, pois...”, diz o nerd número dois que aparenta estar desertinho de bazar para o computador. E o primeiro continua, num estilo megafone confessional: “No outro dia estivémos na praia do V.” (e eu a pensar: Ah.... a minha praia, o cenário perfeito para o marmelanço, afinal o nerd não é assim tão parvo como parece), “... e estivémos duas horas só agarrados, a ver o mar, puto!"

 

(retiro o que disse) 

 

"A ver o mar! Foda-se, eu nasci a ver o mar, aquilo não tem interesse nenhum mas nesse dia foi diferente, vi a cena doutra maneira, tás a ver? Não sei o que se passa comigo, caralho...”.

 

E eu, na mesa ao lado, a fingir que o telemóvel me interessava, com vontade de lhe gritar:

meu,

puto,

chavalo,

tipo,

esquece,

essa cena chama-se Amor!

publicado por Vieira do Mar às 02:34
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The Adams Family´s back

Vários anos passaram. As gracinhas tornaram-se em  graçolas, a medição de forças passou a dramas de cortar à faca, a esperteza saloia aumentou exponencialmente e a minha paciência, surpreendemente, melhorou consideravelmente, derrotada pelas evidências. Amoleci, resignei-me, quem sabe. Já não estou à altura deles. Nem física nem intelectualmente. Entretanto, e para não perder este diário de crescimento, vou passar para aqui os episódios que entretanto têm sido apenas partilhados no facebook, entre amigos. Não quero que pensem que o passar dos anos normaliza as relações familiares. Não, não incorram nesse erro. Agora é uma guerra em todas as frentes. Com armísticios amorosos pelo meio, é certo.

 

publicado por Vieira do Mar às 00:33
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Segunda-feira, 2 de Setembro de 2013

...

https://www.facebook.com/sofiavieiraworkinprogress?ref=hl

publicado por Vieira do Mar às 22:36
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Domingo, 13 de Novembro de 2011

a perspectiva adolescente do burst hormonal alheio

Conversa no carro, depois de ir buscar o filho de 15 anos e os seus dois colegas de banda a um ensaio:

- Epá meu, o Peixoto anda mêmo parvo, com a cena da Mariana.
- Ya, é só sms´s a toda a toda hora, eu já lhe disse, pá, meu, tens que te controlar, essa cena é ridícula...
- Eu até curto a miúda, mas ela faz dele o que quer, meu, trata-o mesmo mal.
- A gaja é muita feia.
- Isso eu não acho. Não é nenhuma... sei lá, nenhuma modelo, mas não é feia.
- É horrível para ele, meu.
- Ya, isso é verdade,  ele só faz o que ela quer, meu, cena triste.

 

Neste momento, intervenho piedosamente:
- Oh meninos, deixem lá o vosso amigo em paz, não vêem que ele está apaixonado?

 

Diogo:
- Ya mãe, mas há limites. Ele é mas é a bitch dela.

publicado por Vieira do Mar às 14:05
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Sexta-feira, 3 de Setembro de 2010

novela

 

 

Cá em casa temos gatos. Um rafeiro asiamesado, uma persa, filharada persistente de ambos e, agora, de empréstimo, uma filha do casal, já crescidota, que regressou ao lar materno; uma gata pita, enfim. Perante a insistência do pai em querer, digamos, saltar-lhe para cima, diz o Joãozinho:

 

- Oh mãe, as relações entre os nossos gatos parecem uma novela da TVI: o pai vive com a mãe, mas quer namorar com a filha.

 

(juro) 

publicado por Vieira do Mar às 04:19
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Segunda-feira, 14 de Junho de 2010

sem resposta

Filho de dez anos (10), após a mãe lhe dar a mão para atravessarem a estrada:

- Nesta família, as pessoas subestimam as minhas capacidades.

publicado por Vieira do Mar às 18:12
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Sábado, 23 de Janeiro de 2010

... e o génio continua engraçadinho...

Historieta Um:
 

Joãozinho: Mãe, tu és schlau?

Eu: Não vale a pena perguntares-me isso, tu sabes que eu não falo alemão; aliás, ninguém aqui fala alemão a não seres tu.

Ele: Eu sei, é só para vos mostrar que sou melhor que vocês.

Eu: Razão tem a tua irmã quando diz que andas insuportavelmente armado em bom com essa cena do alemão...

Ele: Então, como sou o mais novo e não tenho poder nenhum sobre esta família, é a minha

única forma de defesa.

 

(gargalhada minha)

 

Eu: Ai, Joãozinho... o que te safa é que és muito esperto...

Ele: Schlau, mãe, eu sou schlau, que é esperto em alemão.

 

Historieta Dois:

 

No trânsito, a caminho de casa, jogamos um jogo: um diz uma palavra e o outro tem que, com as mesmas letras, fazer uma palavra diferente.

 

Eu: caro.

Ele: roca.

Ele: farol.

Eu: foral.

Eu: caso

Ele: saco

Ele: cinto.

Eu: Ó Joãozinho, não estou a ver nenhuma palavra  que resulte da combinação dessas letras...

Ele: mas há...

Eu: Desculpa, mas não estou a ver...

Ele: Tocin.

Eu: Mas tocin não é palavra nenhuma.

Ele: Ah não? Então tu quando atendes o telefones não dizes: "Tocin?"

 

(...)

publicado por Vieira do Mar às 20:50
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Domingo, 1 de Novembro de 2009

...

(...)

publicado por Vieira do Mar às 17:36
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Sábado, 17 de Outubro de 2009

pequeno génio deveras irritante

Intróito: o inglês da vovó, um bocadinho taralhouca, já não é o que era, sendo que nunca foi grande coisa, dado ser a vovó de um tempo em que as meninas tocavam piano e falavam francês.

 

Num sábado em que, num impulso caridoso de que rapidamente se arrependeriam, os avós se oferecem para tomar conta de dois balões inchados de hormonas e de um pequeno génio de nove anos deveras irritante, a vovó repara que este descurou a higiene pessoal antes de sair de casa (como todos os machos em formação que, até por volta dos quinze anos quando descobrem as raparigas e o  perfume, são basicamente uns porcos mal-cheirosos). Não querendo susceptibilizar o pequeno génio deveras irritante, vira-se para o vovô, confiante no poder de autoridade deste (ahaha) e diz em língua estrangeira, tadinha,  "the boy don´t wash the face". Pequeno génio deveras irritante, em tom doutoral:  "Não, avó... The boy DIDN´T wash the face. É passado...."

publicado por Vieira do Mar às 17:13
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Sábado, 22 de Agosto de 2009

SMS do Joãozinho (que vinha sentado atrás da irmã) para o irmão à frente:

" O papel de parede do telemóvel da Beatriz é ela a curtir com o T."

publicado por Vieira do Mar às 00:19
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Joãozinho, 9 anos, em conversa ao jantar down memory lane:

- Eu tive três grandes peluches na minha infância...

 

 

publicado por Vieira do Mar às 00:16
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Segunda-feira, 1 de Junho de 2009

O novo trabalho escravo infantil

 
- Mãe, já sou RP do Garage! 
 
(o Garage é a discoteca da moda para adolescentes e pré-adolescentes)
 
-  E isso significa exactamente o quê, Beatriz?
 
-  Significa que sou relações públicas...
 
(vem-me de imediato à mente a  actual infestação social de  merches-mayas-erre-pês-famosas,  que animam  festas pindéricas patrocinadas por marcas de uísques,  com os seus pares de mamas  siliconadas, os quais  acabam por destapar em revistas masculinas de baixo orçamento, orgulhosas do “trabalho fotográfico”, que ficou “muito bonito e natural”, e temo continuar a conversa)
 
-  E?...
 
 
- Oh mãe, é bestial! O não-sei-quantos dá-me uma série de convites que têm o meu nome na parte de trás. Eu distribuo-os pelos meus amigos e, por cada dez que entrarem, recebo dez euros. Se só entrarem nove não recebo nada. Mas o melhor é que posso ficar à porta a controlar quem entra e quem não entra – e eu é que decido! Por exemplo, no outro dia estava uma grande confusão à entrada e a minha amiga M.B. de repente levou um apalpão de um rapaz que estava lá num grupo armado em parvo. Como ela também é RP, olha, não entrou nenhum!
 
(ar triunfante)
 
-  Mas… mas…  apalpões?!  E deixam-vos ficar à porta, a vocês,  miúdas, a controlarem a entrada de brutamontes bêbados?! 
 
(ar condescendente e levemente entediado)
 
- Mãe, aquilo são só rapazes parvos, damos-lhes um grito e ficam logo em sentido... Ah!,  e  outra coisa: podemos circular livremente no garage bus, que faz o percurso entre o Garage e a Botica.
 
(a Botica é um bar manhoso na zona de Santos que caiu no goto de TODOS os adolescentes de Lisboa e arredores. Assim, enquanto os da vizinhança estão às moscas, pela rua em frente ao primeiro estendem-se centenas de miúdos que são enganados com shots aguados e sangria aldabrada, que os fazem  vomitar sem sequer  terem tido o prazer de ficarem bêbados primeiro. Os espertalhões do Garage, percebendo que a distância a percorrer entre a Botica e a discoteca - em Alcântara – desanimava os menos afoitos,  criaram um autocarro  que leva e traz comodamente os teenagers inconcientes, que assim não gastam o dinheiro todo no mesmo sítio)
 
- E qual seria a vantagem de passares a noite de um lado para o outro a andar de autocarro em vez de estares na discoteca a dançar?!
 
- Ora, porque ali posso também controlar quem entra e sai, ajudar o motorista no caso de alguém se sentir mal ou fazer algum disparate, etc.
 
(Portanto, à conta dos miúdos de 15 anos, os donos do Garage dispensam publicidade e distribuição, poupam na contratação de matulões para profissões de risco como porteiros da noite, guarda-costas e pica-bilhetes em horário nocturno,   e ainda ganham enfermeiras e baby sitters dedicadas, que trabalham de graça e em trânsito)
 
 É claro que, para uma control freak como  a minha filha (a quem sairá? não imagino…), a perspectiva de ser RP, a ideia de ser o supra sumo social que convida ou deixa de convidar, que deixa ou não entrar;  a perspectiva de  mandar em tudo e em todos, de encaminhar uns para a esquerda e outros para a direita, é o paraíso na terra e o resto não interessa nada.
 
-  Então e o dinheiro, quem é que vos paga quando metem lá dentro uma data de gente? Até agora, quanto é que ganharam as tuas amigas que já são RP há mais tempo?
- Oh mãe, ainda não fizemos contas com o P.M. (leia-se: o explorador-infantil-chulo-mor), por isso ainda nenhuma recebeu nada, mas podemos entrar de graça e frequentar a zona VIP!
(e eu a pensar que, no meu tempo, às raparigas – ainda por cima às giras, como eu… cof cof… – quase que pagavam para que entrássemos)
 
- E isso da zona VIP é o quê?
 
- É uma  varanda.
 - Ah.
publicado por Vieira do Mar às 11:47
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Sábado, 23 de Maio de 2009

Obrigada

Este post é apenas um modo indecentemente cómodo de agradecer todos os simpáticos comentários aos posts de baixo. O blogue não acabou, embora pareça. Mas a verdade é que os momentos com eles são de tal modo absorventes, que só vivê-los já é uma trabalheira, quanto mais escrevê-los. E depois, há o mundo dos adultos, ultimamente também a dar-me muita água pela barba. Prometo que o próximo disparate, meu ou deles, vem para aqui escarrapachadinho, caso não configure a prática de nenhuma ilegalidade. Até já. :)

publicado por Vieira do Mar às 17:57
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Sábado, 21 de Fevereiro de 2009

Se o meu blackberry tivesse boca, beijava-o

Terceiro ano, aula de português que dura uma manhã inteira (boring...) com assistência dos pais, os miúdos divididos em quatro grupos num saudável espírito competitivo. Nós, pais e mães, tontos e babados, de maquininha ou telemóvel em punho, guardamos para a posteridade a conjugação de verbos improváveis em tempos esquisitos e as análises gramaticais e sintáticas que os meninos vão desfiando com primor, no meio de ahs e ohs de admiração, enquanto entoamos loas silenciosas ao Doutor João de Deus e à sua cartilha maternal, que maravilha de meninos que sabem mais cósoutros (e o nosso, então, ainda sabe mais cósoutros que já sabem muito...). Às tantas, o grupo do Joãozinho é confrontado com uma pergunta, O que é um advérbio? Definam um advérbio, meninos. São dados múltiplos exemplos, mas definir que dava jeito, nada, ninguém. O meu, que tem a mania que é bom, fica logo de monco caído e acha a pergunta “injusta” (quando não sabe, a culpa é sempre dos outros). E de repente a professora lança a armadilha, os pais podem ajudar. E logo uma data de mães a assobiarem para o lado a sua ignorância (eu! eu!) com sorrisinhos comprometedores e a tentarem safar-se, nã nã nã, os miúdos têm de descobrir por si próprios, se não é batota... A criança olha-me com ar suplicante, falta-lhes apenas acertar naquilo para preencherem o cartão e ganharem o jogo, uma espécie de bingo. Faço-me de mula e finjo que estou a enviar uma mensagem pelo telemóvel, uma coisa profissional que não pode esperar, temos pena senhora professora, é só um bocadinho. Clico no internet explorer e zás! para o google, zumba! para “advérbio” e “definição”, search e  tungas!, "um advérbio é uma palavra invariável que modifica o verbo, um adjectivo ou um outro advérbio". Fixo mentalmente a definição, deixo a criança sofrer mais um bocadinho e atiro do outro canto da sala para que os restantes ignotos papás e mamãs percebam como sou boa: Um advérbio é uma palavra que modifca o verbo, um adjectivo ou um outro advérbio!... Mãos no ar, Professora!, professora!, já sabemos o que é um advérbio! Bingo. O amigo do lado, francamente impressionado, diz para o meu filho (que incha exponencialmente como um sapo), Beeeem, a tua mãe é mesmo boa, sabe imensas coisas, graças a ela ganhámos! Olho para a desilusão das outras criancinhas e respectivos pais e penso para comigo, sem qualquer ponta de culpa, rebuço, vergonha ou - pior! -, sem qualquer noção do ridículo (esta viria depois), eat it suckers!.

publicado por Vieira do Mar às 21:10
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Domingo, 1 de Fevereiro de 2009

a faculdade aos nove anos

- Mãe...

- Diz,  Joãozinho...

- A faculdade é muito difícil?

- Um bocadinho sim, mas isto é tudo relativo, sabes? Se calhar é tão difícil para um adulto fazer um exame qualquer na faculdade, como tu agora, na primária, fazeres um daqueles testes de matemática de que te queixas tanto.. A dificuldade das coisas tem muito a ver com a nossa idade e com aquilo que a nossa cabeça (que vai crescenco connosco) é capaz de fazer...

 

(pausa para assimilação rápida)

 

- Deve ser muito complicado, aquela coisa dos cacifos e isso...

 

publicado por Vieira do Mar às 15:19
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Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2009

as crianças são tão boazinhas

Diogo, quase no fim de um daqueles filmes-catástrofe-major-banhada em que um pouco credívell grupo de heróis impede que um meteorito oblitere o nosso planeta e todos os seus ocupantes:

- Não acredito que estive aqui a perder tempo a ver isto e agora o meteorito nem sequer atinge a terra...

publicado por Vieira do Mar às 15:43
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Quarta-feira, 1 de Outubro de 2008

a recém... artista

A minha filha mais velha saiu do confortável casulo/colégio particular em que sempre andou, para ingressar numa escola pública, na vertente "Artes Visuais". Começou pela sandalucha de missanga no dedo, avançou para a calça balão dos indianos e as túnicas étnicas com decotes violentos; depois vieram os brincos compridos a chocalhar, um diferente em cada orelha, mais dois ou três furos por aí acima e uma espécie de anel na parte superior da cartilagem (sem furo, por enquanto). Os cabelos já lhe vão a meio das costas, as pontas demasiado espigadas e, enrolados ao pescoço, aqueles horrorosos lenços aos quadrados do hezbolah. Toma dois banhos por dia mas não parece e já me fala em piercings no umbigo e num brilhantezinho – daqueles pequeninos, vá lá mãe! –na narina esquerda.

 
Declaração de interesses: eu sou basicamente uma beta. Uma beta hippy-chique, mas uma beta. Simpatizante dos norte-americanos, da causa judaica, da sociedade de consumo, da Vanity Fair, da Net a Porter e das botas Prada, pois há muito que me habituei a usar luvas nos pés. Sei que é bastante saudável e até desejável,  isto de os adolescente cultivarem a sua individualidade afirmando as diferenças e por aí fora, mas também sei que  terei de me submeter rapidamente a uma cirurgia para alargar o esófago: só assim conseguirei engolir os sapos que aí vêm.
publicado por Vieira do Mar às 11:58
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Quinta-feira, 17 de Julho de 2008

e ainda nem estamos em agosto

 

O melhor das férias é o momento em que começam. Nessa altura,  ainda estamos com a cabeça cheia de cenários românticos, fruto de delírios irreais nos quais a harmonia familiar é uma coisa que se prolonga num contínuo espacio-temporal, para nunca mais acabar.  É o momento em que ainda acreditamos que vai ser desta que os compensamos do mau humor do resto do ano com um verdadeiro tempo de qualidade que, afinal, todos merecemos. Entre passarinhos e vozes celestiais, imaginamo-nos uma família bonita, saudável e feliz, a rebolar na relva com um cão lindo e a fazer desporto,  como aquelas dos anúncios às margarinas vegetais, em que nenhum dos membros tem colesterol, cáries dentárias ou defeitos de personalidade. Mas a convivência forçada de várias pessoas diferentes entre si, e em que cerca de três delas - por acaso as nascidas depois de 1990 -, desfazem literalmente a paciência das outras duas, arrasa com as melhores intenções de qualquer mãe de curta memória. Além de que, cá em casa, só manteiga dos açores. E o estupor do cão rói tudo.

publicado por Vieira do Mar às 02:16
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Quinta-feira, 10 de Julho de 2008

uma triste treinadora de bancada

"Vai, Diogo, isso!, finta-me esse badocha, vá! Não, por esse lado não, cuidado com a cabeça! Ó caramelo, tu não me empurres o miúdo, pá, que eu vou aí e parto-te o trombil! Corre Diogo, finta-me esse gajo, isso, cuidado com o cigano aí da esquerda! Ai, meu deus, agora caiu… Será que está magoado? Porra! Só me apetece estrafegar aquele cabrão careca, que o rasteirou! Ah, já está de pé, ufa. Vai, dá-lhes, filho! Mas… Mas… O que é que aquele puto louro lhe está a fazer? Isso é obstrução, pá, tu larga-me o miúdo, ouviste? Mister, ó misteeer!, Então o mister não vê que aquele matulão deu uma cotovelada ao meu filho?! E não faz nada? Aquilo é anti-jogo, ou lá o que é! Mas que raio de treino é este? Ai, coitadinho, está a chorar, merda! Aguenta que a mãe já aí vai! Por onde é que se entra para o caralho do campo, será por aqui? Não, a porta está fechada, raios, vou à volta… Não, pronto, parece que já está bom, está a correr outra vez… Olha, está a chegar à baliza… Isso! Isso! Diogo, atira, manda, chuta a bola! Goloooooo! Yesssssss! Que pena só estar aqui eu a ver, pá, o puto é mesmo bom, meu rico filho! E  tu toma lá ó badocha, ciganão!"

 
 
(detesto assistir aos treinos de futebol deles: o meu cérebro de mãe histérico-galinácea quase que frita e explode, de tanta hiperactividade emocional...)

 

 

publicado por Vieira do Mar às 12:34
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Segunda-feira, 7 de Julho de 2008

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(o que mais me irrita é que a miúda escolheu um poema do Pessoa que é a minha cara chapada, ou melhor, que é assim uma espécie de mantra que faço por repetir diariamente, à espera que resulte e que seja mesmo assim; e isto sem eu nunca lhe ter falado de Pessoa nem saber que ela o andava a ler. Uma choradeira danada, foi o que foi, parecíamos as mangueiras dos bombeiros a apagarem hoje o fogo na Avenida da Liberdade.)



publicado por Vieira do Mar às 16:41
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Quinta-feira, 19 de Junho de 2008

com netos amigos destes...

O João fica a dormir em casa da avó. À noite, enquanto ele veste o pijama, a avó despe-se e veste a camisa de noite. Ao vê-la em trajes menores, exclama, convencido de que está a dizer uma grande coisa: "Ó Vó, tu vestida és bem mais magra!".
publicado por Vieira do Mar às 11:30
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oito anos, pá, oito anos...


Adenda: o dinossauro MagMag Frascatti:

>



(entretanto, só para dizer que acrescentei ali em baixo vários posts de 2005 que estavam no passeai inicial - só é pena terem-se perdido os comentários; alguns, verdadeiras tertúlias de mães amalucadas)


publicado por Vieira do Mar às 01:17
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Domingo, 1 de Junho de 2008

diálogo absolutamente verídico (juro) *

Pai: Olha, ontem dei um salto à feira do livro e comprei alguns livros para os miúdos.

Mãe: Ah sim? E o que é que compraste?

Pai: Para a Beatriz comprei um “Guia Sexual para Adolescentes” (Dom Quixote), o que é que achas?

Mãe: Err… Não sei, esses livros, sabes como é, às vezes vão um bocadinho longe de mais.

Pai: Por isso é que ainda não lho dei, queria que visses primeiro.

Mãe: Então dá cá, deixa-me dar uma vista de olhos.

(…)

Mãe: “O que é o aparelho genital masculino”, “O que é o aparelho sexual feminino“, “O que é a virgindade”, “Pensos ou Tampões?”, parece-me bem…

(…)

Mãe: Espera aí! “A fase do orgasmo”, “A importância dos jogos sexuais antes do coito”, “O que é ser bom/boa na cama”, “Fantasias sexuais”, “Felattio e cunnilingus”?!

Pai: Pois, se calhar é melhor…

Mãe: Pois, se calhar.

Pai: Dou-lhe antes este aqui, com o porquinho cozinheiro na capa, “As receitas dos meus amigos gulosos” (Editorial Verbo), afinal, já está na altura de ela começar a aprender a cozinhar qualquer coisa e a ser mais independente.

Mãe: Ah pois está, pois está… Boa ideia!

Pai: Pois é.

Mãe: Sim.

Pai: Pois.


* ou eu também quero escrever um post sobre as editoras e a feira do livro

publicado por Vieira do Mar às 21:23
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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008

a pestilência do fim do dia

No fim de um dia de escola, a rapaziada entra no carro. O cheiro que imediatamente se espalha é assim um misto de queijo azedo e de vomitado (dos pés) com uma espécie de caldo knorr (dos sovacos).



Eu: Ai Diogo, cheiras tão mal, abre-me a tua janela por favor!


Ele: Estive a jogar futebol, mãe, estou todo suado, não tenho culpa…


Eu: Eu sei que não tens culpa, mas olha que é difícil de aguentar…


Ele: Ah mãe, eu gosto: É cheiro a HOMEM!

publicado por Vieira do Mar às 15:08
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Terça-feira, 13 de Maio de 2008

os espertinhos/sacanas/estafermos (riscar o que não interessa) *

Eles são mais espertos do que nós, muito mais! E isto às vezes é uma luta.
Estão a ver aqueles momentos em que nos chateiam a medula porque querem e querem e querem uma coisa qualquer e nós a repetir que não que não e que NÃO? E eles, Vá láaaaaa mãeeeee!, e nós, Já te disse que NÃO!. De repente toca o telefone; na pior das hipóteses é um banco espanhol a impingir um crédito; na melhor, é uma amiga que tem novidades para contar. E a gente, ingénuas parvas, instalamo-nos no sofá, ansiosas por sabermos quem está mais gorda e quem anda com quem. Eles põem-se à espreita, estrategicamente à espreita. Esperam pacientemente que passe a fase dos gritinhos de reconhecimento mútuo e dos vinte e dois Como estás querida?, e que a gente engrene e se entrose na conversa por forma a que seja quase impossível parar de repente, tipo sexta metida. E é então que atacam sem dó nem piedade: Mãeeee! Mãeee! Posso fazer/comer/ver/ aquilo que te pedi há bocado? Posso, mãe, posso? Sim? Sim? E puxam-nos pelas mangas. E espetam-nos os dedos no cotovelo. E nós, sem lhes podermos oferecer uma lamparina que parece mal, ainda lhes arremelgamos os olhos, pomos a mão no bocal e sussurramos um Não! enraivecido, mas eles não desistem, sabem que estão em vantagem. Mal nos viramos para o bocal , Ai sim? Tu não me digas que ela fez isso, a cabra!, e lá estão eles outras vez, com um Mãeeee! agora mais alto, e as carinhas de súplica coladas ao nosso nariz ou aos nossos ouvidos, enquanto a amiga do lado de lá descreve as acrobacias eróticas que pratica com o namorado novo - o que faz com uma minúcia que visa apenas alimentar o propósito da nossa inveja de esposas em estado de conserva, claro. Ao fim de alguns (longos) segundos do mais puro, indecente e descarado assédio filial, e da mais pura e contida raiva maternal, todas cedemos: todas! E quando desligamos, constatamos sem surpresa que o estafermo já se empanturrou com três bollycaos e as gomas todas do Natal, já bebeu duas coca-colas, passou seis níveis na playstation, mamou três episódios de Wrestling na SIC Radical, transformou a sala em ringue de batalha, and so on and so on and so on. E nós nada dizemos, culpadas por não lhes termos dado a devida atenção nas últimas duas horas (sacanas).


* Post dedicado a uma querida amiga que me compreende especialmente, pois quando falamos ao telefone uma com a outra somos sempre violentamente atacadas pelos respectivos rebentos-monstro e nunca conseguimos acabar decentemente uma conversa.

publicado por Vieira do Mar às 02:15
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Domingo, 20 de Abril de 2008

fascista

- Mãe, tu és fascista?

- ?!

- Sim, perguntei-te se és fascista.

- Olha Diogo, essa pergunta é tão parva, que francamente, nem te respondo. Ainda por cima andas a dar o fascismo em História! Se não soubesses o que era, enfim...

- É que cá em casa, às vezes, tu não permites a liberdade de expressão.
publicado por Vieira do Mar às 22:55
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Terça-feira, 4 de Março de 2008

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o semi-deus


Para muitos, sou uma daquelas mães, tipo, desnaturadas, que não têm a menor paciência para acompanhar os filhos nos progressos escolares. Gosto pouco de preencher os hiatos deixados pela escola e de participar activamente na realização de trabalhos de casa, de trabalhos de grupo, de trabalhos em geral. Acho que, salvo um ou outro conselho ou tira-dúvidas, eles devem fazer as coisas sozinhos, pois a minha escolaridade já a fiz há muito tempo e não me apetece por aí além rememorá-la, além de que grandes ajudas neste domínio fazem mais mal que bem, pois as criancinhas não desenvolvem. Da mesma forma, acompanhá-los nas actividades extra-curriculares, agora tão de moda para os preparar para esta sociedade super-hiper competitiva, é geralmente uma seca. Por exemplo, as aulas de natação num passado ainda recente: um menino de dois anos, outro de cinco e uma menina de oito. Vestir, despir, touquinhas, calções, fato de banho, chinelos, tampões. Guardar tudo no cacifo, enviar um para cada piscina. Correr entre elas durante cinquenta minutos, espreitar no vidro para que cada um, quando olhasse para cima, visse a mãe babada a cada incipiente braçada e espanejadela à ganso (mas na verdade a ansiar por um café e uma revista no restaurante do lado). De repente, eu naquela correria e a aula já acabada. Ir buscá-los, a roupa molhada nos sacos, os duches, secar-lhes o corpo, vesti-los (calçar-lhes as meias, ah! como eu ODEIO calçar-lhes as meias…), secar-lhes o cabelo, tê-los prontos para saírem, por fim, carro, cadeirinhas, cintos. Chegar a casa a achar que poupei numa ida ao ginásio, pois já treinei o suficiente nas duas horas antes. Tenham dó: aquilo era um inferno. Agora já se vestem sozinhos, mas andam sempre a inventar coisas novas às quais é preciso ir pôr e buscar, o que é só por si uma enorme maçada. A algumas, somos até forçados a assistir e a dizer-lhes que são muito bons e que evoluíram imenso, enquanto pedimos mentalmente a Deus perdão pelo pecado da mentira. Assistir aos jogos, aos intermináveis jogos. De futebol, andebol, voleibol. Hoje é o ténis, amanhã o lacrosse. Ainda por cima eu, que detesto desporto em geral, e coisas com bola em particular. Houve, no entanto, uma altura em que a minha filha fez parte da equipa feminina de basquete da escola. Não jogavam nada e iam aos outros colégios levar trepas monumentais das outras equipas. Os jogos eram aos sábados de manhã, altura de ir à pastelaria tomar o pequeno-almoço, ficar a ler o Expresso e depois ir à praça – aquilo não dava jeito nenhum. Mas eu lá estava, indefectível, com a miúda para aqui e para ali, a apoiar, a incentivar, quase uma cheerleader do princípio ao fim dos jogos. É claro que, bom, para tanto, talvez tenha contribuído o facto de o setôr de ginástica (simultaneamente o treinador, o árbitro e o organizador-mor daqueles lamentáveis eventos) ser assim uma espécie de semi-deus. É que nem vos passa, juro.

publicado por Vieira do Mar às 17:17
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Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2008

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oito e onze anos de puro preconceito



João: aquele estúpido do Bernardo já me anda a irritar... É um ganda gay, sempre com as menininhas lá do colégio todas atrás dele.

Diogo: Se anda com as miúdas todas atrás, é mas é o contrário, qual gay...

João: É gay, ah pois é - está sempre a cantar as músicas da Floribela.

publicado por Vieira do Mar às 18:25
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Terça-feira, 8 de Janeiro de 2008

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os desgraçados das quatro da manhã


Pronto, agora é que é: passei a engrossar as fileiras dos desgraçados que, encolhidos nos assentos do carro e a fungarem de sono, aguardam a saída das discotecas dos filhos adolescentes que não têm idade para ter carta nem maturidade suficiente para irem com os amigos para casa. Sou, portanto, mais uma daquelas pobres coitadas que têm inteligência para perceberem que é melhor dar-lhes alguma liberdade que nenhuma (para que não lhes aconteça o que acontecia às meninas de antigamente quando se livravam das freiras), mas não a inteligência suficiente para conseguirem delegar nos outros o transporte da criança, o que tem como consequência nunca acalmar o pito antes das quatro, cinco da manhã. E esta pouca inteligência que me sobra é tão, mas tão, limitada, que nem confio nas mães das amigas da miúda para a trazerem - algumas bem mais idóneas que eu - e, muito menos, nos pais, nos avós, nos tios ou nos táxis. Feita parva, acho que tenho que ser EU a estar lá às quatro da manhã, a cheirar-lhe o bafo. Basicamente, uma totó meio grogue, a tentar perceber se a roupa está toda no lugar, se a voz não lhe cambaleia, se está bem-disposta e se correu tudo bem. O que é um exercício um bocado espúrio (se cheirar a álcool ou a tabaco, faço o quê, hã? um drama?). Bom, mas isto para vos dizer que somos um grupinho digno de pena, acreditem. Para ali estamos, alguns de nós de gabardina sobre o pijama, à espera da saída das crias, quase sempre umas ingratas de má-cara porque queriam ter ficado mais uma hora porque “agora é que aquilo estava bom”. Os bocejos gigantescos, o ar desinfeliz e os quatro piscas ligados, são o santo e senha dos pais das três da manhã. Ou dos das quatro da manhã (por enquanto, pertenço à primeira leva, a dos que têm filhos entre os 13 e os 15). A hora combinada para a recolha - 3 da manhã - é tramada, porque não é carne nem é peixe e requer preparação prévia. É que não sei se estão a ver: sexta-feira, podre de cansaço, fui jantar fora e tal mas agora estou mortinha por aterrar no sofá ou no colchão. Mas não, não posso. Quando olho para o relógio já é meia-noite, daqui a duas horas tenho de estar a pé: se ponho o despertador não acordo. O terror de as crias poderem ficar na rua entregues a elas próprias e sujeitas aos selvagens da nite, leva-me a espetar palitos nos olhos e a submeter-me, nas duas horas seguintes, a uma espécie de tortura chinesa: a do ping ping infernal dos minutos. Lá para as duas, não aguento e cabeceio; até costumo sonhar um bocadinho, com pastagens verdes e bois e assim, até o despertador do telemóvel me fazer saltar o coração na boca, dando-me vontade de vomitar. Podem crer que, no momento em que me faço à estrada, estou mais bêbada do que um presidente russo; se a polícia me mandar parar, tenho a certeza que acuso qualquer coisa. Mau, muito mau. Só tenho uma coisa a dizer, sinceramente: obrigada, pai.

publicado por Vieira do Mar às 17:19
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Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2008

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Diogo



- Mãe, a partir de que idade é que posso comprar a Maxmen?

publicado por Vieira do Mar às 15:23
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Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

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o bailinho


Perante um episódio especialmente confrangedor de Morangos Com Açúcar (que vejo por dever de ofício), desabafo com o Diogo, 11 anos (como agora se usa na imprensa escrita: primeiro, o nome e a seguir, a idade):

- Esta série está péssima… Antigamente, apesar de ser má, ainda trazia alguma mensagem: ou era contra as drogas, ou era a favor da integração dos deficientes ou da defesa do ambiente... Agora, é só uma data de personagens acéfalos que se roçam pelas paredes do cenário da escola, com os mais velhos a chatearem os mais novos e conversas de café num péssimo português… Não há qualquer história e os "professores" são umas amêijoas moles que só aqui estão para namorarem uns com os outros às escondidas... Até as miúdas são cada vez menos giras.


Vai o Diogo, indignado:

- Ai isso é que tem mensagem, mãe!, tem sim senhora: uma das raparigas é adolescente e está grávida; a mensagem é a de que não se deve ter relações sexuais.

(eu caladinha que nem um rato. pausa. silêncio na sala. e mais pausa. e então ele larga a bomba.)

- Bem, que não se deve ter relações sexuais sem preservativo, claro.

E estava eu indignada por, momentos antes, ter passado no intervalo dos morangos o trailer desse lixo que deve ser o filme Call Girl, onde se vêem cenas de prostituição e de sexo explícito, isto é incrível, espetarem com sexo no nariz dos miúdos às seis da tarde... santa ingenuidade a minha.

publicado por Vieira do Mar às 19:18
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Sexta-feira, 7 de Dezembro de 2007

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- Mãe, já viste estas borbulhas que me estão aqui a aparecer no nariz?


- Huhummm... De facto, tens aí umas borbulhazinhas, pode ser uma alergia a qualquer coisa, temos de pôr uma pomada.


Grita o cabeça-amarela-dez-reis-de-gente-com-a-mania-que-é-esperto do interior da casa de banho, a giboiar num banho de espuma:

- É A ADOLESCÊNCIA!

publicado por Vieira do Mar às 12:21
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Quarta-feira, 28 de Novembro de 2007

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Vem aí a festa de Natal do mais novo,

o que arrasta inevitavelmente uma insuportável choradeira que faz mal ao coração e me tira anos de vida. É que não aguento, não sei. Na última a que fui, de fim de ano, o miúdo puxa da flauta a meio do coro, saca meia dúzia de notas com um evidente esforço interpretativo e eu tive que parar de filmar, pois os soluços eram tantos e tão audíveis que tremiam a imagem e abafavam a música. Não sei o que me dá quando vejo as minhas criancinhas nestas pueris exibições de talento; só sei que o auto controlo desaparece e eu fico para ali desamparada, a esconder o ranho e com um riso imbecil agrafado à cara, não vão eles pensar que eu estou é triste e desapontada, sei lá. É que, vamos lá a ver, o miúdo não é propriamente um Mozart ou um Michael Jackson em formato albino. Mas, só de o ver ali no coro, juro, com a vozinha sumida entre outras trinta vozes iguais, forma-se-me um nó na garganta, os olhos picam e as lágrimas escorrem, imensas e despropositadas. Escusado será dizer que morro de vergonha e que as minhas tentativas de disfarçar a emoção são ainda mais ridículas do que a choradeira em si, pois abro imenso os olhos para evitar as lágrimas, como se estivesse aterrorizada com o som de alguma nota mais pífia, e falo muito e alto, para mostrar que a minha agitação mais não é do que alegria. Imagino que os outros pais, pessoas geralmente de reacções normais e adequadas, à vista deste patético descontrolo, quiçá de origem hereditária, não me convidarão o miúdo para as festas de aniversário, receosos de que este desabe num pranto se se acabarem os croquetes na mesa.
publicado por Vieira do Mar às 07:19
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Sábado, 11 de Agosto de 2007

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Todos no carro a caminho do Algarve, a jogar o jogo das palavras. Letra F.

- Faca!

- Fotossíntese!

- Flor!

- Fábrica!

Joãozinho:

- Eu sei uma palavra, mãe, mas é uma asneira e é em inglês... Posso dizer?

- É melhor não, Joãozinho.

- Vá lá, mãe, vá lá!

- Bom...

- Fóquios !
publicado por Vieira do Mar às 23:20
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Quinta-feira, 21 de Junho de 2007

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Jogo de Futebol


Manifestações de triunfo, após concretização na baliza contrária:


7 anos: Chupa!

11 anos: Engole!



(na dúvida entre a boca cosida ou a pimenta na língua, saio de fininho; afinal, a ignorância inocente é, ainda e por enquanto, uma hipótese a considerar...)

publicado por Vieira do Mar às 23:09
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Quinta-feira, 14 de Junho de 2007

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curtas


14 anos: Gay?! O Ricky Martin é gay?

11 anos: Completamente, meu, não me digas que não sabias; aquela ancazinha de um lado para o outro, aquele cabelinho…

7 anos: É estranho, tem sempre umas miúdas muita giras nos vídeo clips.

......


14 anos: Oh mãe, gostas dos Red Hot Chili Peppers?

y anos: Gosto...

14 anos: Qual é a tua favorita?

Y anos: Hummm... acho que a Scar Tissue. E a tua?

14 anos: Ah, eu gosto daquela do Californication...Ai, que agora não me lembro do nome...

y anos: Olha lá, sabes o que quer dizer "Californication", de que palavras provém?

14 anos: Bem, sei que a primeira é "Califórnia"; a segunda deve der "vacation", ou assim. Deve ser eles que foram de férias para a Califórnia, ou qualquer coisa do género.

y anos: Pois. É isso, é.

......


y anos: Então, gostaram do feriado?

7 anos: Bem, meu, foi bué da fixe!

y anos: Meu?! Mas isso lá são maneiras de tratar a mãe?! Por "meu"?!...

7 anos: Ah, sim, pois, desculpa, mãe: "minha". Foi bué da fixe, minha!
publicado por Vieira do Mar às 18:49
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Quarta-feira, 6 de Junho de 2007

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Socorro!, tenho uma filha delinquente...


Acabadinhos de fazer, os catorze. Há que começar a aligeirar, a deslaçar um bocado a corda e a dar alguma ordem de soltura à criança, para que não fuja de casa aos dezasseis e apareça grávida aos dezassete. Ora, a miudagem de Lisboa, hoje, "sai à noite" à sexta e invade em hordas a zona de Santos. A partir das dez da noite, a Rua das Janelas Verdes, o Largo de Santos, a Dom Carlos I e arredores, mais parecem o recreio do liceu. São às centenas, entre os onze (?!) e os vinte, e espalham-se ao longo das ruas, desde Alcântara (onde fica o Paradise Garage, uma das catedrais). Os restaurantezecos da zona regozijam-se, com a sorte grande que entretanto lhes caiu no colo: outrora quase às moscas, hoje reservam-se mesas com quinze dias de antecedência. Funcionam à base de um menu fixo; quando os miúdos são obviamente muito menores, trocam a bebida alcoólica pela sobremesa. Mas só alguns foram abençoados com essa inexplicável vantagem que é terem ficado subitamente "na moda", como o Porão de Santos, o Orange ou o Left. Discotecas, são três: o Absoluto (ou ABS), o tal Garage e o Loft. Legalmente, os miúdos não podem entrar mas, com a conivência das autoridades, convencionou-se que à sexta-feira têm livre passe. De vez em quando, uma rusga aqui e acolá baralha-lhes as voltas e, durante algum tempo, pratica-se uma aparência de legalidade, com as discotecas a exigirem escrupulosamente a identificação. Embora os tempos sejam outros e coiso e tal, fico espantada com o facto de as miúdas começarem a sair cada vez mais cedo; a minha filha tem uma colega de dezasseis anos que lhe confidenciou já estar farta da "noite", o que me parece extraordinário. Aliás, grande parte das amigas dela já se iniciou nas lides e parece que existe um certo consenso parental: saem à noite sexta-feira sim, sexta-feira não. Estamos a falar de miúdas de 13 e de 14 anos, atenção! A minha, e meia dúzia de outras com mães igualmente pouco ou nada "fixes", não sai, ponto, como está bem de ver. Dei-lhe, outro dia, a abébia de ficar até à meia-noite nos anos do melhor amigo, num bar (o Incómodo), tendo o resultado da minha surpreendente abertura sido uma dúvida insanável que girava à volta de um alegado e suposto shot, cujo destino final preferi não aprofundar, em nome da minha sanidade mental. A consequência fatal da dúvida (por via das dúvidas), e apesar das juras e súplicas, foram vários dias de castigo onde lhe foi negado o acesso a todos os gadgets electrónicos ao seu alcance (pc, televisão e rádio incluídos) e o azucrinar diário da minha consciência de mãe carrasca até ao desfazer do terrível castigo. Agora, fez anos e, como prometido algures há uns meses atrás, num dia em que eu deveria estar bêbada ou drogada, ou as duas coisas, foi sair. À séria. Foram a um dos restaurantes da moda, primeiro turno, menu infantil, com direito a discoteca até às duas da manhã. Escusado será dizer que fui pôr, buscar, pôr e buscar, e mais pôr e mais buscar, uma data de imberbes criaturas, cujos pais me acharam com cara de autocarro (e ainda bem). Está claro que não descansei antes da três da manhã, e sem qualquer proveito próprio. A providência, no entanto, resolveu dar-me um bónus: ninguém foi a discoteca nenhuma, pois foram miseravelmente "barradas", depois de pedida a identificação (tinha havido rusga uns dias antes e parece que há que alimentar a hipocrisia reinante). É claro que, o que a providência dá com uma mão, tira com a outra: a caminho de casa, e depois de vertida a frustração em cima da solícita progenitora, a criança sai-se com esta, olha, mãe, eu tenho é que arranjar um BI falso, como os dos meus amigos. Com o photoshop é fácil... Azarinho, que pela boca morre o peixe: a próxima, só lá para os vinte e um.

publicado por Vieira do Mar às 19:55
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Quinta-feira, 17 de Maio de 2007

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"O meu primeiro vaucher"


O pai vai para o estrangeiro. Na impossibilidade de o presentear atempadamente com um desenho adequado à ocasião (são muitos, os afazeres da criança: lanchar, ver os morangos, jantar, ver o canal disney, enfim, esta vida é um ferro), o Joãozinho entrega-lhe uma nota de crédito, um verdadeiro vaucher:




...assim se compromentendo a, aquando do regresso do pai, trocar o papelito por uma obra-prima. Entretanto, o pai terá que andar com o vaucher na carteira, para jamais se esquecer de que o filho é homem de sua palavra.

publicado por Vieira do Mar às 15:56
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Quinta-feira, 10 de Maio de 2007

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(Deus?!)



Joãozinho:

- Mãe, e se nós, no fundo, formos a banda desenhada de alguém; e se não existirmos de verdade, apenas acharmos que existimos?

- ...

- Ou, então, se formos só desenhos animados a passarem na televisão de alguém muito maior que nós?

publicado por Vieira do Mar às 18:21
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O poder educativo da televisão vem de onde menos se espera.



O Diogo aparece-me com a camisola cheia de autocolantes de um boneco preto com o coração a vermelho.



- Contribuíste, foi? Com quanto?

- Dei dois cêntimos por cada um.

- Dois cêntimos? Só?!

- Então, ela disse que eu podia dar o que quisesse e não me apeteceu dar muito…

- Sabes, ao menos, para onde é que vai tanta generosidade?

- Sei! Para a prevenção das doenças cardiovasculares.

- Ena! Muito bem. E o que é que são "doenças cardiovasculares"?

- São doenças do coração, claro! Eu também vejo o House, mãe.

publicado por Vieira do Mar às 18:08
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Segunda-feira, 7 de Maio de 2007

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" Na onda do viver saudável,


... que sempre me assalta a determinação e o lar nestas alturas (...), e na esperança de lhes gastar aquelas energias que sempre trazem a mais da escola,resolvo organizar uma sessão de ginástica pré-jantar. Enroladas as carpetes e afastados os móveis, pespegamo-nos - eu e os putos - em frente à televisão, onde ponho a correr um vídeo de workout directamente importado da amazon, com as miúdas (remakes estilosos da Jane Fonda) que fazem aeróbica naquele vídeo do "Call on me". Não sabem, não se lembram? Eu refresco-vos a memória: trata-se de uma música de merda com um esganiçado qualquer a repetir o refrão praí mil vezes, boa para os pastilhados da nite, mas dançada por um grupo de gajas do mais giro e bem feito e perfeito que pode haver, as cabras. E lá começamos, eu, a minha filha e os meus dois filhos, nos aquecimentos da praxe; alguns minutos depois, está tudo a bombar. Só que, enquanto as mulheres da casa saltam e arfam a tentar acompanhar a pose e o ritmo impecável das boazonas, embora se sintam umas miseráveis badochas, os miúdos sentam-se no sofá com os olhos fixos no ecrã, num silêncio inesperado. Então, desistem já? Estão assim tão cansados?, pergunto-lhes eu, entre dois pontapés no ar e um na auto-estima, seguidos de um quase-desmaio. Não!, respondem em uníssono, Mas é que aqui vemos melhor as miúdas!, a fazer ginástica não dá, mãe! E lá ficam, mais atentos do que se estivessem a ver o último episódio dos morangos onde explodisse o colégio da barra em peso. Entretanto, chega o pai a casa e vê-nos naqueles preparos. Olha para a nossa esfalfice saltitante e para a performance televisiva das boas, olha outra vez para nós e ri-se; depois, olha melhor para elas (muito melhor, aliás) e já não ri. Segundos depois, está sentado no sofá ao lado dos outros, a testosterona familiar toda reunida, boquiaberta e solidária, numa basbaqueira muda que mete dó. Escusado será dizer que nem chegámos à parte dos abdominais: eu e a miúda, fomos mas foi jantar."


(repost)

publicado por Vieira do Mar às 00:43
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"A guerra do Percentil


Elas preparam-se amorosamente para a batalha, polindo e afiando a arma com que desferirão os golpes fatais nas suas inimigas, que são todas as outras MÃES.E a arma é...tcharaaan... o boletim de saúde!

O primeiro treino da recruta é no pediatra, esse homem bom e dedicado que, ao medir e pesar a criancinha, tende sempre a preencher os gráficos com valores um nadinha acima do real, não vá a mãe do rebento passar, num ápice, de babada sorridente a dragona raivosa e incendiar o gabinete com o seu hálito de fogo. Depois, já com o boletim de saúde entre mãos, devidamente preenchidinho, elas combinam reunir-se umas com as outras e é então que estala uma daquelas guerras surdas que de vez em quando têm lugar no mundo cínico do putedo maternal... a guerra do PERCENTIL.

Para quem não sabe, o percentil é a modos que a unidade de medida pela qual se afere o desenvolvimento físico das nossas criancinhas. Os parâmetros ditos normais situam-se algures entre o 5 e o 95, e dizem respeito ao peso, à altura e à relação entre os dois. O perímetro cefálico também costuma ser usado como arma de arremesso, embora como apoio na retaguarda, porque se refere apenas ao tamanho da cabeça.

A coisa funciona tal qual os putos nos balneários da escola (sim, estamos a esse
nível básico), em que ganha o meu porque é maior que o teu (como a rábula dos Gato Fedorento, não sei se estão a ver...).

Preparadas para a refrega, reunimo-nos num café, em casa, num banco de jardim,
wherever, sacamos dos boletinzinhos e toca de atirar percentis umas contra as outras como quem dispara balas de calibre 38,ai o joãzinho está no percentil 90, o bernardinho tem um perimetro cefálico de 55 centímetros, um crânio, um génio!, o meu pedrinho nasceu no percentil 95, quatro quilos e meio de gente, vejam lá, mas já está no percentil 100, é um comilão.... Pode introduzir-se aqui um elemento complementar, (também indicativo de forma física superior do infante) o chamado índice de apgar, mas não quero transformar este post num relambório técnico sobre questões de estratégia.

Entretanto, as mães com filhos no percentil algures entre o 5 e o 50 retiram-se, derrotadas, porque, a um nível subliminar, percentil baixo é sinónimo de qualquer coisa como mãe-vaca-negligente-que-não-alimenta-a-cria, ou, então, porque não estão dispostas a ouvir expressões simpáticas como não terás nanismo na família, filha? é que é hereditário, sabes... Não há pior do que a subconsciência que subjaz a estas alegres competiçõezinhas entre mamãs: a de que somos melhores mães, quanto mais alta e bem nutrida for a nossa criancinha - e que se lixem os factores hereditários, sociais e as idiossincrasias de cada um.

Seguimos depois para a batalha final, onde já só entram os pesos pesados, ou seja, as mamãs de filhos com percentil 50-75 ou mais. E lá continuamos, com uma enorme falta de noção e de mais que fazer, a comparar comprimentos fémur-coxa, ombro-cotovelo, tamanho das mãos, número de ténis que já não servem e largura de bonés que já não cabem... a atirar perímetros cefálicos, índices vários e percentis à cara umas das outras. O pior é que, como diz a do anúncio, por mim, passava a tarde
inteira naquilo.

Haja cú para nos aturarmos, irra."


(repost)

publicado por Vieira do Mar às 00:26
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"O Primeiro Beijo, Cena I


- Mãe, com que idade deste o teu primeiro beijo na boca?

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A mentirinha piedosa (fiquei cheia de pena de mim) sai-me de rajada, sem pensar um segundo:

- Ai filha, aí pelos quinze anos, vá!...


(e eu, a lembrar-me que foi quase aos treze - onde ela se encontra agora - que o
M. me empurrou contra a cerca do campo de jogos e, enquanto o contínuo, distraído, ralhava com um grupo mal-comportado no outro canto, me enfiava a língua pela boca abaixo sem eu ter tido tempo de soltar um ai)

É claro que ela acreditou, até porque tinha acabado de fazer a mesma pergunta ao pai, que, algures entre a tontura e o desmaio, lhe respondera, aos trinta e dois.


(continua, infelizmente, continua)"


(repost)

publicado por Vieira do Mar às 00:02
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Domingo, 6 de Maio de 2007

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"Mãe"



Joãozinho, 18 de Fevereiro de 2007.

publicado por Vieira do Mar às 23:44
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Segunda-feira, 30 de Abril de 2007

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Socorro!, tenho uma adolescente em casa!

(... ou duas... ou dez....)



Eu sou uma daquelas mães pseudo espertalhonas que pensa que, se alguma coisa tem de lhes acontecer, ao menos que seja debaixo do meu tecto e sob as minhas asinhas tão protectoras que mais parecem as asas de um boeing. Vai daí, quase tudo lhes é permitido: todos os amigos são bem vindos e admito, com alguma assiduidade, festas, pijama parties, sessões nocturnas de filmes de terror, trabalhos de grupo (mesmo os trabalhos manuais, com tintas e colas...) e raves no Messenger e no HI5 até às tantas– desde que tudo cá em casa (e comigo na sala ao lado). À conta disto (e dos índices de popularidade da minha filha, uma verdadeira pop star no micro universo escolar), tenho sempre a casa cheia de galinhas aos gritinhos e de mânfios silenciosos em plena adolescência. São todos iguais. Eles, de cabelo a tapar-lhes a cara, estilo barcarola, de olhos postos no chão e ar falsamente tímido, a darem-me dois respeitosos beijinhos como quem não parte um prato. Elas, giríssimas, de umbigos à mostra, cabelos compridos e dentes perfeitos. Perigosíssimas. Há dias em que a minha casa se enche de "tiaaaaaaaa", "ó tiaaaaaaaa", de hahaha, hohoho e de hihihi, e é vê-las passear entre o quarto e a casa de banho, de soutiã, a trocarem tops (camisolas sem alças), a pintarem-se as unhas e a lavarem o cabelo (estão sempre a lavar o cabelo!). O de dez anos, de olhos em bico, a achar que lhe saiu a sorte grande… E o que elas riem, senhores! Pode dizer-se que não sabem fazer outra coisa e que, se estudassem como riem, seria uma maravilha. Agora, tive cá uma emprestada uma semana inteira e garanto-vos que elas não pararam de rir por um segundo que fosse. E a lembrarem-me de que os 14 anos são isto mesmo: gozar, gozar, gozar - com os velhinhos e deficientes nos autocarros, com os professores, com o resto da família, umas com as outras e, especialmente, com os rapazes. São impressionantes, os níveis de inteligência emocional e de sagacidade (para não dizer de crueldade) das raparigas desta idade. Nada lhes escapa, disparam em todas as direcções, acertam invariavelmente na mouche e não fazem nenhuma espécie de cerimónia com o resto do mundo. É claro que, se me der para aprofundar, na maior parte das vezes, a diversão é mais delas do que minha.
Um dia destes, por exemplo, entro no templo feminino que é o quarto da minha filha e vejo uma espécie de soutiã de silicone pendurado. Mas que raio é isto??? Tiaaaaaaa, diz-me a M., é o soutien que comprei na loja chinesa (o prolongamento do "A" não é afectação, é mais a verbalização de um desejo de intimidade). A tiaaa já viu, não tenho mamas nenhumas, sou uma tábua, é uma tristeza. Eu queria era ser assim, como a tiaaa ou a Bia, com uma coisa que se visse. Então, comprei este soutiã de silicone nos chineses, cinco euros, depois, por cima, ponho dois daqueles soutiãs com almofada e só depois é que ponho o top. E fica assim (e mostra-me foto no HI5, sem vergonha nenhuma, elas todas de decote, abraçadas umas às outras, as maminhas e os risos equiparados. E eu, a olhar para aquele horrível acessório de borracha, sem saber o que dizer. Finalmente, saiu-me qualquer coisa parva como, Oh M., mas tu tem cuidado, querida, que essa borracha tem ar de se desfazer e, com o calor do teu corpo, pode ficar colada à tua pele. Elas riem-se e disfarçam o que pensam de mim porque, enfim, imagino que seja porque lhes dou de comer e lhes pago as pizzas que passam a vida a encomendar... Catorze anos, e já mestras na arte da dissimulação sexual despudorada. Ai a minha vida.


Cenas do próximo capítulo (sim, sei que vos deixei curiosos): o HI5, esse espelho interplanetário de egos adolescentes, onde muitos adultos, tristemente, também fazem uma perninha.

publicado por Vieira do Mar às 15:02
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Sábado, 21 de Abril de 2007

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Joãozinho*, está muito engraçado, este teu desenho do Bitoque (o gato) a brincar com um novelo de lã:

src=http://pic40.picturetrail.com/VOL367/2008331/9593749/247419935.jpg>


Ó mãe… por favor! Então tu não vês que o desenho está ao contrário? Ele está é deitado de barriga para cima, que é assim que os gatos gostam de brincar:

src=http://pic40.picturetrail.com/VOL367/2008331/9593749/247419944.jpg>


Ah... Pois claro.


*7 anos




publicado por Vieira do Mar às 17:25
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Domingo, 8 de Abril de 2007

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WISHFULL THINKING



O Joãozinho mudou de escola a meio de este ano. Perante o nítido avanço em relação aos restantes colegas (entrou para o primeiro ciclo já a saber ler e escrever, o que fez sozinho) e a casmurrice do colégio em reconhecer-lhe a necessidade de um tratamento diferenciado; perante as dificuldades de adaptação e a desmotivação, optámos por colocá-lo numa escola onde o primeiro ano é, ele próprio, “avançado” e equivale à típica "segunda classe". Sociável e desligado como é, fez logo uma série de novos amigos e rapidamente esqueceu os antigos, excepto dois ou três, os amigos de sempre, os do coração. Passam todos longas horas ao telefone, a pôr a escrita em dia, a fazer comparações e a matar saudades. No outro dia ligou-lhe a grande amiga, I., para o meu telemóvel.


Joãozinho, é para ti! Obrigada, mãe!

Pega no telemóvel, corre para o quarto do irmão (que não estava) e fecha a porta, para garantir a privacidade da conversa. Do meu quarto (juro que não fui de propósito ouvir, juro!), pude perceber algumas coisas que ele dizia:


Olha lá a lata que eu tenho, já viste, I,. estou aqui deitado na cama do meu irmão, a falar, todo relaxado, tipo iá. Bué da fixe. Mas o que é que estavas a dizer?

Apercebo-me de que a I. lhe conta coisas que, entretanto, aconteceram no antigo colégio. E ele, às tantas:


E vocês lembram-se de mim? Falam em mim no recreio? Sim? Quantas vezes? Seis? Cem? Seis ou Cem? Não percebo nada do que dizes. Pronto, cem, ouço-te mal, mas acho que estás a dizer cem...

Moral da história: nunca é cedo demais para se fazer do wishfull thinking um modo de vida.
publicado por Vieira do Mar às 05:41
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Sábado, 24 de Março de 2007

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o efeito aipod



Primeiro veio Roswell, depois os x-files e os chips implantados na cabeça dos "levados", mas hoje existe algo muito mais poderoso e que derrete o cérebro dos adolescentes de toda a galáxia, dominando-os por completo: os leitores de mp3. Uns mini-coisos que se enfiam até ao ouvido interno, que os tornam escravos da música (ou, pelo menos, do que eles chamam música) e completamente autistas para o resto do mundo. Por exemplo, eu grito: “Beatriz! Beatriiiiiiiiz! Olha o tremor de terra! Abriga-te debaixo da viga mestra!” e ela ...nada. "Beatriiiiiz, tira os pés da água, olhó tsunami!"...nada. Qualquer tentativa de diálogo é recebida com a maior das indiferenças e o refrão trauteado do último lixo da MTV. O pior de tudo é nós, os outros, os não-adolescentes, termos igualmente que gramar com a alienação e o mau gosto musical, sob a forma de desperdício. E o que é o "desperdício"? O adolescente implanta os “phones” no ouvido interno no volume máximo, por forma a derreter o cérebro, e nós ficamos com os restos do som, uma espécie de “zzzzztpumhuuuuzpchchchchiiiiiiifssssss”, que não é música nem é batida, é apenas um ruído insuportável e irritante. E é claro que, quando vamos todos no carro, este barulho de fundo estraga a hipótese de qualquer outra sonoridade, portanto, rádio com música decente, esqueçam. Às vezes, dá vontade de bater repetidamente com a testa no volante. Beatriz, baixa isso... já baixei, mãe... baixa mais... assim não ouço, MÃE!...então desliga...Oh mãe.... Em dias especiais, quando me sinto especialmente preparada para a guerra (por exemplo, quando dormi bem ou depois de um fim-de-semana relaxado) resolvo dar luta: elevo o som do meu rádio, para não ouvir o desperdício dela; ela eleva o desperdício dela - carro, desperdício, carro, desperdício... DÁ-ME ESSA PORCARIA JÁ! (mãe, um, adolescente, zero).

Neste momento, tenho o pesadelo multiplicado por dois: um pré-adolescente e uma adolescente em descompensação hormonal. O primeiro, além do ruído de fundo vindo, não de Marte, mas dos guetos norte-americanos, ainda por cima, canta. E, coitadinho, meu rico filho, que dava a vida por ele, mas este meu filho do meio canta sempre na mesma nota e está sempre rouco. Parece uma retroescavadora lá muito ao fundo. Pior de tudo: como ambos estão quase sempre surdos, falam um com o outro e connosco a gritar, o que não contribui por aí além para a harmonia familiar. Para não os ouvir, olhem, comprei um Ipod. Daqueles cor-de-rosa, sabem? Lindo. Estou a adorar.

publicado por Vieira do Mar às 20:06
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Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2007

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Peixeirada


Pausa para considerações nationalgeográficas após o jantar:


Joãozinho: a alcateia de lobos para cá, a alcateia de lobos para lá...que comeram este, devoraram aquele, iadaiada...


(interrompe-o a maninha mais velha, muito matreira)


Mana matreira: Mas o que é uma alcateia, Joãozinho?


Joãozinho: Er...é assim uma espécie de manada de lobos.


(risota geral, que o menino é uma gracinha e gosta; depois, ouve-se o mano do meio, assimcomáassim menos matreiro mas que gosta de ver a criança espalhar-se ao comprido)


Mano menos matreiro: E um conjunto de peixes, João, como se chama?


(o outro, sem saber a resposta, mas inchado da gracinha, palhacinho nato, precisante da admiração dos outros como do ar que respira)


Joãozinho: Peixeirada!

publicado por Vieira do Mar às 22:23
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Terça-feira, 17 de Outubro de 2006

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balões de água

Numa espécie de loja dos trezentos, a miudagem tenta convencer-me a comprar umas fisgas assustadoras que disparam balões de água. Eu, ainda com o último Carnaval na lembrança (guerras de balões de água em pleno Inverno entre uma turma de sétimo ano mais uma dúzia de apêndices menores, que deram direito a arrelias várias como roupas e camas encharcadas, constipações violentas e vários olhares justamente recriminatórios por parte das mãezinhas dos vândalos pré-adolescentes que haviam ficado a meu cuidado), dei-lhes um rotundo não. E vai a miúda: Oh mãe, mas tu quando eras da nossa idade não gostavas de balões de água? E vai eu, Gostava, mas isso era na vossa idade. Cada um no seu papel: o vosso papel de filhos é quererem que eu os compre; em nome da minha sanidade mental e da vossa boa saúde, o meu papel - de mãe - é não permitir que o façam Vai o mais pequeno, o pingento de seis anos (sem qualquer ponta de ironia), Oh mãe, eu pensava que o teu papel era TRABALHAR.
Olhem, sabem que mais, levem lá a porcaria dos balões e não se fala mais nisso. Prometam-me só que desta vez não encharcam o gato.
publicado por Vieira do Mar às 00:54
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Sábado, 12 de Agosto de 2006

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amor de irmãos


Tarde na praia, jogar ao stop (ou aos países, conforme a versão):


- Joãozinho, é a tua vez, diz lá o nome de um animal começado por .

- Deixa cá ver... Já sei! Diogo troglodita.

publicado por Vieira do Mar às 18:21
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Sexta-feira, 21 de Julho de 2006

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(sair do ninho)

src="http://pic11.picturetrail.com/VOL367/2008331/9593749/169670252.jpg">


Uma semana na casa de praia da amiga. Cinco malas à porta do quarto.



- Filha, desculpa, mas para que é tanta coisa? Vais fugir de casa? Para o exílio? Vais-te mudar para a costa alentejana? Não precisas de metade desta tralha, francamente.

- Isso é que preciso, MÃE! É tudo im-por-tan-tís-simo.

- Ah. Ok. Portanto, deixa cá ver, estas maçãs todas são para quê? E os iogurtes líquidos? Vais para o meio do mato? É o kit de sobrevivência?

- Então, mãe, somos cinco, são três horas de expresso, se ALGUÉM tiver fome...

- E estes jogos todos, e o baralho de cartas, o monopólio?

- Já te disse que são três horas, ALGUÉM pode querer distrair-se...

- Vinte pares de cuecas para uma semana? Cinco sutiãs? Dez jogos para a playstation?

- E tens sorte em eu não levar a Shelby*! Olha, tens ali as instruções para a alimentares, não te esqueças.

- Pois, era giro, era, ires de aquário das tartarugas atrás. E para que é que levas esse cofre? Tens lá dentro algum tesouro?

- É onde guardo a chave do meu diário.

- Mas porque é que não juntas a chave, que é minúscula, ao teu porta-chaves? Tens que ir com esse mastronço atrás?

- Está bem, se calhar não é má ideia.

- E este saco, com coisas de vidro lá dentro?

- São vernizes.


(abro-o. contém todos os meus vernizes, roxos, encarnados, laranja, brancos)


- Olha, podias ao menos ter pedido. E para que é que queres isto tudo? Vais vendê-los para a praia, é?

- É que, assim, eu e a I. podemos querer pintar as unhas de acordo com a roupa, percebes?

- E estes cadernos?

- Um, é o meu livro de recortes de anedotas; os outros, são os meus diários.

- E para que é que levas essas botas para a praia?

- Pois...eu...



Meia-hora depois de duras negociações e a bagagem ficou reduzida a quatro sacos e meio, ou seja, levou à mesma o quinto, mas meio vazio. E lá foi, com o seu grupo (a seita tem um radar...), três rapazes e duas raparigas, com os seus vários pares de havaianas, os quilos de roupa interior, a maquiagem roubada à mãe, as três camisas de noite, as botas, o peluche favorito, as maçãs, a polaroid, o livro do Eragon e os ouvidos cheios de recomendações (tem o telemóvel sempre ligado, obedece à mãe da I., põe protector, não vás para fora de pé, cuidadinho com a rapaziada...), feliz e contente por me ver finalmente pelas costas.

E eu ali, no terminal das camionetas, a tremer o beiço, a vê-la, merda!, a afastar-se e a sentir que pronto, agora é que é, está a sair do ninho e eu não vou estar lá sempre, para lhe aperfeiçoar os voos, indicar-lhe as melhores rotas, amparar-lhe as quedas...


Um vazio estranho, que não é bem vazio porque também é uma coisa alegre e boa, de esperança e de olhos postos no futuro. Um vazio meio cheio, vá, como aquele quinto saco que ela levou consigo.



* a tartaruga, que, segundo as suas minuciosas instruções, só come se alimentada à boca, com uma pinça (yeah, right).






















publicado por Vieira do Mar às 18:31
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Terça-feira, 18 de Julho de 2006

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Ora sai um kandinsky para a mesa do canto do infantário, fáxavor:

(ou da mobilidade dos conceitos teóricos)


- Mãe, fiz um desenho abstracto.

- Que giro, Joãozinho! E porque é que dizes que é abstracto?



- Porque não deixei nem um bocadinho de papel branco à vista!


publicado por Vieira do Mar às 16:33
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Segunda-feira, 10 de Julho de 2006

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auto-caridade



- Mãe, este ano nas férias quero fazer trabalho assim tipo de caridade, sabes? Quero ajudar os velhinhos e os doentes, ou então tomar conta de crianças e ganhar dinheiro para comprar as minhas coisas. O que é que achas?

- Acho óptimo, Beatriz, há imensa gente sozinha que ficaria contente com um bocadinho de companhia, é uma excelente lembrança da tua parte. Agora, não me parece que seja o tipo de trabalho que se pague, é mais uma coisa que se faz de graça, para ajudar quem precisa, entendes?

- Sim, mas não faz mal, porque o importante é ajudar as pessoas...


(e, nesse momento, anjinhos de asa branca e pombinhas sorridentes carregando liras e raminhos de oliveira, inundaram o céu com os seus voos diáfanos de bondade e eu juraria até que ouvi as trombetas da paz ao longe...)



Uma semana depois, e aqueles jeans da bershka a chamarem-na, a mini-saia da roxy a berrar por ela e os Piratas das Caraíbas, parte II, a estrear.

- Olha, mãe, lembras-te daquela história do trabalho comunitário? Afinal mudei de ideias. Vou mas é dar massagens à família e aos amigos, que ganho mais.


E é este o cartaz que espetou à porta do quarto, sendo que, em vez das trombetas angelicais, ouve-se Shakira (consta que faz bem às cervicais, embora me custe a entender o enquadramento na categoria música relaxante):


Olhem, de boas intenções.





publicado por Vieira do Mar às 02:53
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Domingo, 9 de Julho de 2006

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Até as crianças percebem, senhores!...


- Ai...ai...aiiii!

- Joãozinho! O que é que estás a fazer aí no chão agarrado ao joelho?! Aleijaste-te?

- Não, mãe! Estamos a brincar ao mundial e eu sou o Ronaldo e estou a fingir que me lesionei.


...quanto mais a FIFA...

publicado por Vieira do Mar às 20:24
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Sábado, 8 de Julho de 2006

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Está na hora do nosso regresso.

A seu tempo, todos os posts anteriores voltarão também aos seus lugares.
publicado por Vieira do Mar às 01:15
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Terça-feira, 13 de Junho de 2006

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Filha faz treze anos

e pede à mãe para organizar uma pool party com os amigos (só os amigos, mãe! não quero cá família...). Chega o dia e a coisa está mais ou menos ela por ela: meia dúzia de rapazes espichados e borbulhentos, de gaforinas pseudo-rebeldes, vestidos à pinto calçudo, e meia dúzia de miúdas devidamente enformadas, de umbigos à mostra, costas à mostra (enfim, tudo muito à mostra, menos o couro cabeludo). Preocupação da mãe: contar cabeças - que ela bem sabe conterem nesta altura mais ideias parvas (como seja saltar do cimo da mesa de plástico para a piscina na parte mais baixa) do que outra coisa qualquer. A páginas tantas, o exterior esvazia-se para o quarto da filha, uma divisão de 3 metros por 3 com a janela fechada até cima numa escuridão completa, com tudo ao molho e fé em deus, ou seja, com tudo deitado em cima e aos pés da cama do anjinho e princesa de sua mãe. Afastadas as imagens súbitas de Sodoma e Gomorra (e de outros filmes de Fellini/Godard) que a assaltam, a mãe lá consegue penetrar no ambiente húmido de respiração e corpos encafuados para perceber que - alívio! - apesar do ambiente pesado, na televisão o Valdemort tenta matar o Harry Potter, o que lhe parece relativamente inofensivo. Uma hora depois, metade de sexo indiferenciado encontra-se novamente na piscina. Então, filha, os outros?, pergunta. Ah! Ficaram no quarto a ver o resto do filme. Quer dizer, alguns... porque os outros estão no marmelanço... A mãe congela o sorrisinho e jura não mais perguntar até ao fim da vida sobre o paradeiro de ninguém e, aquando no corredor, bate com força com os pés no soalho e anuncia a sua chegada com pompa e circunstância, gastando os nós dos dedos na porta do quarto. Afinal, há coisas que uma mãe não quer ver, nem saber, pelo menos para já.

Ele era um bocadinho de generation gap com tempero de espaço contentor aqui para a mesa do canto, fáxavor, que a minha filha acha que somos amigas e eu não sei se estou preparada.
publicado por Vieira do Mar às 02:59
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Quarta-feira, 19 de Abril de 2006

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em viagem I



“Mãe, sabias que o senhor incrível dá murros nos maus e faz poffff! E a mulher elástica estica muuuuuuito os braços, estiiiica e... iááááááááá!, também mata os maus. Depois há o Zezé, que não tem poderes e só se transforma num Diabo, e não faz nada, mas a Violeta atira uma bola contra os maus e vrrrrruuuuuuuummmm...mata-os a todos! O mais mau de todos é o Sindrome que lança uns raios assim, zzzzzzzzzt!, mas o Flecha corre muito, catapumcatapum, e ele nunca o apanha...”


(Duzentos quilómetros de onomatopeias depois, e varreu-se-me a tristeza miudinha de saber que vai passar a ver o mundo através de lentes inquebráveis. O que interessa é que veja o mundo.)




em viagem II


- Mãe, nós morremos para sempre ou vivemos outra vez?

- Não sei, filho, há quem diga uma coisa, outras pessoas dizem outra...olha, como nunca morri, se queres que te diga, não sei.

(silêncio prolongado. os carros lá fora. as travagens. as buzinas. as pessoas. a cidade a mexer. a dúvida a remexer.)



- Mas, mãe...quem é que gostavas que ganhasse?


(eu longe. em casa. no cinema. na revisão do carro. nas coisas por pagar. no jantar por fazer.)


- ...Que ganhasse o quê, filho?

- Sim, gostavas que ganhassem os que acham que se vive outra vez ou os que acham que morremos para sempre?

- Gostava que ganhassem os que acham que vivemos outra vez. Era bem mais giro.


(silêncio breve. brevíssimo. satisfeito. completo.)


- Pois. Era só viver...e viver...e viver...e viver....e toda a gente a viver...a viver... a viver... a viver...


(e lá fomos a viver e viver e viver até casa. felizes. a imaginar a eternidade do nosso amor.)



em viagem III



Adoro conduzir. Adoro. Existe, não obstante, um pequeno problema: todos os outros condutores, à excepção do meu marido e do meu pai (sim, sim, já sei: Freud explica). O convívio diário com o lixo que polui as estradas portuguesas é me difícil e desgastante, já que, cada falta de civismo irresponsável, tomo-a como uma espécie de ofensa pessoal, a mim e a toda a minha família até à terceira geração. E é então que eu, mulher habitualmente calma e ponderada, sou vítima de uma estranha mutação genética e, em menos de um minuto, passo de Dr. Jekill a Mr. Hide, adquirindo a imediata capacidade de desejar a morte, com dor, do meu semelhante.

Para tanto, basta algo tão inofensivo como o meu semelhante meter-se à minha frente a 20 na faixa da esquerda, marcar passo até ao sinal verde, que entretanto passa a laranja e, quando fica vermelho, zuuut!, acelerar e deixar-me parada no dito vermelho. Nos segundos que se seguem imagino-me com terríveis poderes telequinéticos tipo Carrie, a provocar o despiste do semelhante em questão e ficar a vê-lo agonizar entre os ferros retorcidos.

A frustração raivosa que então se apodera de mim tem várias consequências negativas que, infelizmente, não consigo evitar. A primeira, é que me tira anos de vida, uma vez que a raiva e o ódio, mesmo que durem apenas um nanagésimo de segundo, fazem mal à pele. A segunda é pior e traduz-se em conversas pedagógicas e edificantes, como a que se segue:



Eu: Ai o cabrão do velho que não me sai da frente e eu, que ainda não fiz o jantar!

Fedelho n.º 1: Mãe, estás a dizer uma asneira muito feia.

Fedelho n.º 2: Pois, mãe, se fossemos nós, se calhar, já tínhamos levado, mas como és tu...

Eu: Calem-se e não me chateiem. Já vos disse que, quando ouvirem a mãe dizer estas coisas no carro, não liguem, ignorem, esqueçam.

Fedelho n.º 3: A gente não liga mas ouve, temos ouvidos é para ouvir, e se tu podes dizer asneiras, porque é que a gente não pode?

Eu: Porque vocês são pequenos e...ai esta vaca que me ia batendo...pronto, porque não, porque eu digo que não podem e eu é que mando!

Fedelho n.º 3: "Porque não" não é resposta, foste tu que nos disseste.

Fedelho n.º 2: Além disso, não se chama "velho" às pessoas de idade, também nos ensinaste isso, lembras-te? Diz-se "velhinho", que é mais simpático.

Eu (em anotação mental): Prá próxima, não me posso esquecer de dizer o cabrão do velhinho.

Fedelho n.º 3: Ó mãe, e porque é que chamaste "vaca" àquela senhora, também é asneira?

Eu: Se não estiveres a referir-te àquele animal preto e branco que dá leite e muge, é.

Fedelho n.º 1: Mas o que é que quer dizer?

Fedelho n.º 2 (interrompendo-o): Ah, isso eu sei, é o mesmo que pê - ú - tê - á!

Eu: Não digas asneiras!

Fedelho n.º 2: Mas eu não disse, mãe! Eu só soletrei, olha: pê-u-tê-á, isso não é dizer a asneira...

Eu: Está bem, está bem, pronto. Vá, saiam lá que chegámos a casa. Dasse (em surdina).

Todos (em coro): Ó mãeeeee, mas isso também é asn...

Eu: PELAMORDEDEUS!

publicado por Vieira do Mar às 16:21
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Domingo, 26 de Março de 2006

...

até um dia destes.
publicado por Vieira do Mar às 00:03
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Quarta-feira, 1 de Fevereiro de 2006

tão gira a neve!

Hipermercado, avio do mês (palavra gira, esta: avio), muitos congelados da Iglo, que cá em casa somos cinco e isso da alimentação natural e biológica colhida de véspera e cozinhada nas vinte e quatro horas seguintes é muito bom quando se vive sozinho e se tem narta suficiente para dar cinco aéreos por três cenouras tortas, que nem para uma sopinha dão... Bom, mas dizia eu ( já me perdi) que chego a casa cheia de sacos, os dedos roxos do peso, com tudo a descongelar (que aquela coisa de serem térmicos é uma ganda treta), os robalos selvagens (apesar de tudo, ainda não cedi à aquicultura...) a pingarem para os bifes da vazia de origem controlada, os douradinhos a derreterem-se para cima dos danoninhos, as pommes noisette a esbodegarem-se por sobre os nuggets de frango... o desespero, enfim.

Abro o congelador (o meu frigorífico é daqueles combinados, congelador mínimo em cima) e o que vejo? Três enormes bolas de neve (de gelo, portanto), cada uma, pertença de cada um dos meus filhos, com etiquetas de papel coladas ou lá o que é, nas quais, supostamente, constariam os respectivos nomes para não haver confusões (afinal, cada uma detém as suas especificidades e difere na essência e na forma, das outras duas, que isto das bolas de neve tem muito que se lhe diga).
Esta minha cabeça de mãe-dona-de-casa-trabalhadora-escrava-da-família-e-do-chefe-que-a-
azucrinam-diariamente, nem se dá ao trabalho de engendrar um qualquer plano maquiavélico como, sei lá, aproveitar sub-repticiamente as bolas para uns gins ou uns martinis, por exemplo. É para o lixo e é já, que se me começam a escorrer liquídos nojentos pela cozinha fora...

É claro que fui apanhada em flagrante delito enquanto me livrava da primeira bola, que descongelava no lava-loiça. De imediato, fui rodeada por três nativos selvagens que me manietaram psicologicamente e me impediram de alcançar os meus tenebrosos objectivos. Como resultado, o jantar foi assim uma espécie de bodas de Canaã, pois tivemos que cozinhar e comer uma data de coisas que descongelaram entretanto; já o resto da noite foi de guerra aberta, dado que cada um dos indígenas renegava a propriedade da bola entretanto derretida, pois a etiqueta (?!) desfeita com o suposto nome do proprietário não permitia identificar o mesmo.

O que significa que continuo com a capacidade do congelador reduzida a um terço, acrescida de lutas diárias pela posse da merda dos dois pedaços de gelo sujo, vindos da rua sabe-se lá de onde, que todos querem ter mas nenhum quer pegar.


(e eu, que ficara tão contentinha com a neve... totó, claro, para não variar)
publicado por Vieira do Mar às 03:12
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Sexta-feira, 27 de Janeiro de 2006

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Não sejam lorpas


E porque os bons conselhos nunca são de mais (e ainda por cima, são de graça), aqui vai mais um, este especialmente dedicado à malta casada, juntada ou amancebada, embarcada nessa conquista viking que é ter filhos pequenos. Então reza assim, o conselho.

Excepto em caso de doença, pesadelo, tristeza reconhecida notarialmente ou trovoada ribombante, não deixem os vossos rebentos dormirem convosco na cama. Caso não saibam, desde já vos informo que não é o facto de terem filhos em comum que faz de vocês um CASAL a sério perante os deuses, os homens ou entidades intermédias. Não. Precisam também e em especial, de:
porta do quarto fechada + reboliço entre os lençóis + gemidos abafados + risos atravessados + porta do quarto aberta + pésantepés corredor fora + assaltos ao frigorífico às quatro da manhã + líquidos bebidos pelo mesmo copo + dedinhos do outro lambidos com esmero.
Para que tal seja possível, ensinem o vosso filho, desde o momento em que lhe são apresentados, a gostar do seu próprio quarto e a confiar incondicionalmente naquelas quatro paredes. Se preciso for, fiquem lá com ele atéperder o medo ou a manha, deitem-se no chão ou onde for, mas não o deixem invadir um espaço que é vosso ( tal esforço é uma espécie de PPR com benefícios fiscais: acabará por ser recompensado). Caso contrário, preparem-se para um casamento incompleto, frustrado, cortado a meio e noves fora nada.
E pisguem-se sempre que puderem, mas só os dois, não sejam lorpas. Têm avós, tias, amigos, baby sitters, disponíveis para vos aturarem os rebentos durante três dias? Óptimo. Digam-lhes bye-bye sem olharem para trás, sequem a merda da lagrimita que teima em cair, desapertem o coração e façam-se a uma pousada, a um parador, a uma pensão, a uma noite ao relento. Só os dois. De preferência, dêem aos hóspedes do quarto ao lado um bom motivo para se queixarem ao gerente, no dia seguinte. Cheguem saciados, de mãos dadas, sorriso imbecil agrafado no rosto e prontos para pegarem plos cornos mais uns meses de procissão familiar e êxtases em surdina.
E nunca! por nunca, digam orgulhosamente cá eu, não vou para lado nenhum sem os meus filhos, se eu vou, eles vêm também. Desenganem-se: não é por causa disso que são melhores pais, nem que os outros vão achar que vocês são melhores pais. Aliás, são melhores pais, quanto mais felizes forem; para serem felizes, entre outras coisas, têm que se tocar com indecência, têm que se comer como perninhas assadas de frango caseiro e que se chupar um ao outro até ao ossinho; enfim, têm que se amar, pornograficamente, amar.
Por isso, caro/a leitor/a, atentai: se a sua cara-metade insistir para que viajem sempre todos juntos para todo o lado, atreladinhos uns aos outros que nem comboio de feira, desconfie e pense bem na vida. É muito provável que tal signifique que não quer estar a sós consigo, daí BigMacensanduichar os miúdos entre vocês. Eu cá, não sei. Eu cá...
publicado por Vieira do Mar às 03:25
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Sexta-feira, 13 de Janeiro de 2006

iôoooo!

O Joãozinho e o seu amigo André, que têm uma banda, inventaram este rap (ler com entoação iooooô e imaginar o primeiro de óculos na ponta do nariz a fazer aquele gesto tipo "cornos para baixo" que os rappers fazem):


A morte bate à porta não sabes quem é

Ficas a pensar na festa que é

Vais à discoteca fazer uma kurte

Vais a casa Vais ao computador

Descobrir a parte do teu dispor.


- Ó João, aquela primeira parte não foram vocês que inventaram, confessa lá, aquilo veio de outra música qualquer...

- Não, não, mãe, essa parte foi o André que inventou, é mesmo inventada.

- Ah! Ok.

-...E a do "computador" foi porque me lembrei de ti...

- Pois, faz sentido (shame on me). E o "dispor", porquê esta palavra?

- Ora mãe, foi só para rimar.


(Portanto: sentido rítmico, boa expressão corporal, plágio parcial descarado, um toque de experiência pessoal baseado num trauma com a mãe, alguma preocupação com a rima... enfim, os rapazes têm futuro.)
publicado por Vieira do Mar às 03:08
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Terça-feira, 3 de Janeiro de 2006

o insustentável peso do ser

- Então, Joãozinho, como é que te sentes, agora que já tens seis anos?

- Com mais responsabilidades.
publicado por Vieira do Mar às 03:07
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Quinta-feira, 22 de Dezembro de 2005

...

Mãe a vários milhares de quilómetros de distância:

Olá, querido... estás bom? Tudo bem? Então, o que tens andado a fazer?

Filho de nove anos:

Está tudo bem, olha, agora estava a ver os Morangos com Açucar.

Mãe a vários milhares de quilómetros de distância:

Ah sim? E então, novidades? Aconteceu alguma coisa importante?

Filho de nove anos:

Por acaso, até aconteceu, sabes? Descobriram quem violou a Matilde.


(pausa para repeat e rewind no cérebro materno)


Mãe a vários milhares de quilómetros de distância, como quem não percebeu:

Quem fez o quê a quem?

Filho de nove anos:

Quem violou a Matilde, sabes? Afinal não foi o Nelson que agarrou nela e que...

Mãe a vários milhares de quilómetros de distância, atalhando num ápice:

Pronto, pronto, ok, não preciso de saber os pormenores, contas-me depois, agora adeus e porta-te bem! Olha, e já agora chama aí a tua avó, sim?


(para a próxima, envio um SMS e já não se me azeda o café viennois)
publicado por Vieira do Mar às 03:05
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Quinta-feira, 15 de Dezembro de 2005

espaço contentor

Que penso assim, não é novidade nenhuma: momentos de separação entre filhos e pais, são fundamentais para todos. É bom que eles por vezes fiquem com primos, tias e avós, que conheçam as suas pequenas idiossincrasias e taras menores, que entrem noutras rotinas (e que percebam que se podem fartar, não apenas dos pais, mas de terceiros, para depois concluírem que os pais não são assim tão maus como isso...he he). E, depois, há coisas de avós e de tios: os avós e os tios estragam os netos e os sobrinhos, permitem-lhes liberdades inusitadas, levam-nos a sítios diferentes, contam-lhes outras histórias, ensinam-lhes brincadeiras novas, cozinham ovinhos mexidos à meia-noite e preparam leitinhos com chocolate às três da manhã, não obrigam a tomar banho, fazem tranças e risco ao lado, e levam os meninos à praça e ao teatro. No entretanto, os pais aproveitam para namorar, conversar e viajar (de preferência, tudo ao mesmo tempo em fins-de-semana prolongados).E é aqui que tudo se complica.

O planeamento propriamente dito é sempre uma excitação: vamos para aqui, não!, vamos antes para acoli; esta cidade conhecemos, mas não vimos o não sei das quantas, ah! e com neve deve ser linda... e christmas markets, vamos a uma que tenha muitos christmas markets!, não preferes um sítio mais quente? tropical? não, vamos para a neve.. .. Enfim, atingido que seja o consenso, feitas as reservas e as malas de todos, lá deixamos os miúdos com os familiares respectivos. Em arrancando de manhã cedo, isto tem lugar no dia anterior. No momento das beijocas do adeus, já o estômago se me começa a enrolar tipo jibóia refastelada a digerir um gabiru. Adeus, meus queridos, portem-se bem, ó mãe, podemos ir com vocês, então, já falámos sobre isso, vocês gostam taaaanto de ficar com os avós, vá, adeus, adeus...! PUM!

Fecha-se a porta e o coração começa-se-me a mirrar como se o estivessem a embalar a vácuo. Nessa noite, como ainda estamos cá e eles ali ao lado, meia dúzia de ruas abaixo, a coisa escapa: acordo bem-disposta e cheia de energia, estado que se mantém no caminho para o aeroporto. balcão 27, check in, porta 13, embarque, não fumadores, coxia, fasten seat belts, pastilha elástica para os ouvidos e, no momento da descolagem, invade-me por fim uma angústia da separação tão grande, mas tãaaao grande, e uma vontade tão colossal de inverter a marcha daquela merda, afocinhar com o avião no chão e correr a resgatar os meus meninos das garras dos avós, que se torna mais agradável ir ao lado de um bombista suicida prestes a mergulhar de cabeça em setenta e duas virgens, do que ao meu.

Na primeira meia hora de voo, suspiro, fungo, arrependo-me, choro que me farto e gasto uma caixa de kleenexes; quando chega a comida, lá me distraio com o salmão fumado e as tristes vagens verdes que não como, procurando pelo meio qualquer coisa que saiba a chocolate. Chegadinhos que somos, pronto: é uma festa, os dias passam a voar, compro lembranças, escrevo postais, envio sms e mails e instala-se em mim uma saudade alegre e mansa; não raro, quando faço as malas no regresso, concluo que me soube a pouco e que, afinal, ainda me aguentava mais uns dois ou três diazinhos, na boa.


Nada a fazer: não obstante estar careca de saber como são e onde me levam, as minhas contradições de mãe seguem invariavelmente o mesmo padrão, ano após ano, filho após filho.
publicado por Vieira do Mar às 03:02
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Quinta-feira, 8 de Dezembro de 2005

no carro (II)

Ele, o tal dez reis de gente com cinco anos: Mãe, vamos fazer um concurso de palavras acabadas em ão?

Eu: Vamos!

Ele: Cão!

Eu. Pão!

Ele. Coração!

Eu: Camião!

Ele: Mão!

Eu: Tostão!

Ele: Chão!

Eu: Perdão!

Ele: Cabrão!

(...)

End of Game.
publicado por Vieira do Mar às 03:01
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Sábado, 3 de Dezembro de 2005

a árvore de natal

Isto das decorações de Natal como forma de celebração do espírito da Família, there´s a season to be jolly, lalalalalalalala..., tem que se lhe diga.
Começa tudo imbuído daquele espírito maravilhoso de sermos uma comunidadezinha fortificada pelo amor, pela alegria e por outras utopias que tais, e toca de enviar o entusiasmo inicial à garagem e mandá-lo trazer os pacotes todos para cima. A princípio, a malta ajuda e participa: pega daqui, escorrega dali, empurra dacolá, até ao elevador e, se preciso for, até ao infinito e mais além. Ao entrarmos em casa, já os bofes estão assim um bocadinho como que mais para fora do que para dentro, que a árvore é artificial e pesada, os enfeites são muitos, os anjinhos são de gesso, as bolas, de vidro, e os pais natal, de madeira.

Colo a cuspo as vontades, que começam a dispersar-se à primeira imagem dos morangos: vá lá, meninos, bora aí fazer isto, o que ajudar mais põe a estrela lá no cimo (estranhamente, esgatanham-se, por este privilégio final) e lá consigo arrastá-los para a montagem da coisa propriamente dita.

Ora bem, abrir as ramagens de uma árvore de natal de metro e setenta com a consistência de um abeto adulto dos apeninos, é tarefa, no mínimo, chata como a potassa: raminho a raminho, abre e puxa, abre e puxa, até ficar tudo redondinho e com o formato devido, que é parecer o mais natural possível. Por esta altura, quase sempre valores mais altos se levantam, normalmente, uns providenciais trabalhos de casa que haviam ficado esquecidos na bruma dos tempos. E lá me desaparecem eles para os respectivos quartos, fingindo semblante responsável. Quando acham que aqui a moira já abriu e puxou todos os fucking raminhos da puta da arvorezinha, aparecem alegremente na sala, de volta ao convívio natalício-familiar.

Então e agora, mãe? Agora é pôr as luzes, mas primeiro temos de as desenrolar.
E lá está: desenrolar as luzes (mal enroladas e à pressa no fim do Natal anterior) é uma graaaande maçada. As lâmpadas prendem-se umas nas outras, metade estão partidas e eu nunca me lembro de as ligar antes de as envolver na árvore; depois, quando constato que estão fundidas, tenho que as desenrolar, enquanto a minha língua desenrola em murmúrio (era bom, era) meia dúzia de asneiras, pouco condizentes com a quadra e com o momento, que se quer de alegria e paz.

Ultrapassado o pseudo-drama da iluminação, chega a altura dos enfeites. Aberta a caixinha das surpresas, três narizes mais ou menos curiosos (mais menos, do que mais, que o Zé Milho está a dar uma aula de hip hop), e começa finalmente a decoração a quatro.

Estranhamente, com tanta bola, estrela, anjinho e guirlanda, de todas as cores, tamanhos e feitios, cada um deles só quer o que os outros têm, dando-se então início à sinfonia do eu vi primeiro e dá cá isso, meu ganda troll. Os primeiros cinco minutos, são passados a disputar o direito à posse de uma bola encarnada (sendo que existem mais dez iguais); os outros cinco, o direito a uma estrela dourada (de que há mais seis) e por aí fora, até ao desmoronar completo da fraternidade natalícia e da minha paciência - que é o momento em que se escolhe qual deles porá a estrela branca (esta sim: única) no topo da árvore.

Por esta altura, já as minhas adoráveis crianças esgotaram o léxico de injúrias e ameaças aprendido no recreio da escola, acrescentaram mais umas de sua própria lavra, ensaiaram alguns tabefes e beliscões uns nos outros, e eu já os expulsei dali para fora. Com indisfarçável alívio, acabo por compor os finalmentes em agradável solidão.
Chamo-os, então (não tenho safa possível) para o momento da estrela branca: o vencedor é tirado à sorte, os outros dois, perdedores, fazem juras de ressentimento eterno e congeminam a aplicação de um ou dois cascudos no fanfarrão, na ausência dos adultos.

Nos dias seguintes, perguntados que são sobre a árvore de natal, prevalece unanimemente a versão oficial: foram eles que alancaram com a dita escada acima, foram eles que a montaram e eles que a enfeitaram. O pai, esse traidor, corrobora. Eu, basicamente, ter-me-ei limitado a supervisionar a operação. Ou nem isso: se formos a ver bem, nem lá estive. E eu não os desminto.


Todos os anos, por esta altura, a sensação de ser uma ganda-mega-major-mãe-totó-comida-por-todos-os-lados-menos-pelo-lado-que-liga-ao-continente, agrava-se.
publicado por Vieira do Mar às 02:59
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Quarta-feira, 23 de Novembro de 2005

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jantar de pais

Conhecimentos que se fizeram àconta dos filhos, colegas de turma (gente com pouco ou nada em comum, portanto). Elas, ai! nós levamo-los sempre connosco, férias só com eles, já estivemos no México e em Cuba, yadayada, all inclusive, e eu, pois eu não, se me dou ao trabalho de atravessar o oceano é para me ir divertir, gosto de sair à noite, de comer àvontade, de beber, de dizer asneiras, de fazer disparates, quando estou com eles, lamento, gosto muito, mas não me divirto nem metade, e elas, chocadas, ai não, aiiii! Pois nós divertimo-nos taaaanto, tanto..., e eu a pensar, mentirosas, pá, mentirosas... e umas trancadinhas-extra, uma boa bebedeira, um charrito, já nem se lembram não é?...lá está. E olho para os pais-maridos, sentados na outra mesa, mulheres de um lado, homens do outro, barrigas caídas, duplas papadas, charuto ao canto da boca, o look secretário-de-estado-moda-verão-2005, a gabarem os filhos, a arrotarem-lhes as proezas, sempre os melhores alunos, the best!, a conquista da décima-melhor-cás-outras, mais um ano no quadro de honra e eu, a minha teve nega a Matemática, a professora é uma puta, e elas, chocadas, ai credo..., não diga isso!, e olham para o lado, e eles, os perfeitos, os paizinhos concebidos sem mácula nem pecado, os que os levam a todo o lado e gastam os dias entre as aulas de futebol (o meu é o melhor jogador), a natação ( a minha já está no campeonato), o judo ( o meu é cinturão roxo) e o violino ( eles foram tocar a Sevilha), e a repetição em coro do estafado summer hit, o meu é tãaaao inteligente, nem preciso de o mandar estudar, teve cincos a tudo!, e eu pensar como raio se cresce sem ouvir um vai para o quarto, tens que estudar, hoje não vês televisão!, a acenar a cabeça, a fingir que sim, e vocês, pázinhos, quem são vocês, no meio desse fogo de vista? em que momento deixaram de ser quem foram para passarem a viver a vida de terceiros, que, só por acaso, são os vossos filhos? eram assim tão vazias, as vossas vidas, antes de os terem? viva a perfeição da capa-de-revista!, sois todos tão bons, imagino-vos os podres (e bebo mais um copo sangria manhosa).
publicado por Vieira do Mar às 03:11
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Segunda-feira, 21 de Novembro de 2005

numanumaiei

Existe uma música, chamada Dragostea ou lá o que é, que fez sucesso há uns tempos atrás, e que terá sido celebrizada por um grupo de opção sexual duvidosa, os OZone. Corre por aí que os membros do dito terão morrido num acidente, embora a wikipedia refira que se terão apenas separado. Bem, não importa. O que interessa é que, à visão do Chicken Little a dançar a dita música, no canal Disney, ouço o seguinte comentário, da parte do tal metro e pouco de gente do post de baixo:


Olha! O Chicken Little a dançar a música dos gays mortos!


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(é que não há politicamente correcto que salve esta família, gaita!)
publicado por Vieira do Mar às 02:57
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Quinta-feira, 17 de Novembro de 2005

"xótes"

Nos Morangos com Açucar, miúda de 13 anos diz para miúdo de 15: Bora aí beber um copo? Miúdo de 15 responde: Bora!

Mãe sentada à mesa, a ver os Morangos com Açucar: Beber um copo??? Mas qual copo??? Com a idade deles, espero bem que se estejam a referir a um copo de sumo...

Filha de 12 anos, que vê com a mãe os Morangos com Açucar: Ó mãe...dah!; é claro que é de sumo, querias que fosse o quê?

Filho de 5 anos, criança imberbe, pirralho de metro e pouco, que vê com elas os Morangos com Açucar:

Não é nada, eles já bebem mas é shots.


(assim, "xótes")


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publicado por Vieira do Mar às 02:55
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Segunda-feira, 14 de Novembro de 2005

mãe-mexilhão

Tudo, na vida de uma pré adolescente, é de extremos; a hormona choca daqui, abana dali e quem se lixa é o mexilhão, neste caso, a mãe (que o pai pode ser um serial killer, mas é sempre maravilhoso e adorável). E é ao mexilhão que cabe manter o difícil equilíbrio entre a euforia histérica pela compra de uns jeans e a depressão profunda porque, dias depois, ela não se consegue enfiar nos mesmos, nem deitada em cima da cama em pose de peixe-balão.

E depois existe a questão dos gostos, que não há meio de se entrelaçarem (sim, eu sei, vai ser um corropio nos comentários de relacionamentos perfeitos mãe-filha, mas, olhem, não é o caso, azar). É que não há intersecção, ponto final, parágrafo. Dizem-me que é normal e que a generation gap em versão saudável é assim mesmo: elas a acharem giro o Zé Milho (aquele rapaz dos D´zert que me leva a semicerrar os olhos a cada vez que lhe entro no quarto e apanho com o dito em cheio na retina), e o George Clonney, um cota "medonho". Mas lá que irrita, irrita.


No outro dia, a grande fresta geracional tornou-se por demais evidente. O governo civil cá de casa autorizou uma pajama party (assim mesmo) de miúdas (faixa etária 12/13), com ordem de acampamento na sala e liberdade no Blockbuster. Às sete da tarde já estava tudo de pijama, a enfardar pipocas e batatas de pacote, assim contribuindo para o avanço inexorável do acne adolescente e do pneu, numa guincharia desalmada. O resto da família ficou confinado à zona dos quartos e qualquer aproximação a menos de cinco metros da porta, por parte de um dos irmãos mais novos, era recebida com manifestações histriónicas de repulsa tipo padre-de-cruz-em-riste-a-exorcizar-demónios.


O mais interessante? A escolha dos filmes. Sim, porque isto de eu ser mãe liberal é só fachada, na realidade, sou uma matrona castradora. Segue-se a inquirição. Então, que filmes alugaram? Ora, uns de terror...(resposta meio sumida). Sim, mas quais? O The Ring 2. Viram o um? Aquilo mete um medo desgraçado... Vimos. E não ficaram impressionadas, não morreram de medo, não tiveram pesadelos? Ai mãe, és mesmo dah!, como se aquilo metesse medo... Bom, ok, eu já vi o dois e aquilo é banhada, se aguentaram o um, podem ver o dois.


É claro que não viram, nem o dois nem o três. Cinco minutos depois da Samara (uma miúda molhada que sai dos televisores...brrrrrr) se ter mostrado no ecrã e de terem ecoado pelo prédio alguns gritos insanos, abafados por cobertores, e depois de todos os bonecos de peluche terem aterrado na sala à laia de consolo, lá passaram ao filme seguinte. E qual era o filme seguinte, perguntam-me vocês? Qual? Pois com tanta filme para adolescente no mercado (99,9%, praticamente), as miúdas escolhem-me o ...Kiss Me.


O Kiss Me! Eu nem estava bem a ver o que era aquilo, pensei que fosse uma história de amor para teenagers; afinal, era um filme português com a Marisa Cruz pré-Pinto, o inefável Nicolau Breyner e mais uma dúzia de estrelas nacionais incandescentes, numa mediocridade soporífera que metia dó. E eu, estupefacta, a ver a marisa roçagar pelos lençóis as suas qualidades dramáticas, Mas ca raio vos passou pela cabeça para alugarem uma coisa destas ??? Afinal, parece que uma delas tinha uma prima que tinha uma amiga que tinha outra amiga cuja irmã lhe tinha dito que o filme era giro.


Concluo que, no microcosmos adolescente, como no macrocosmos da vida, a credibilidade das fontes e o normal funcionamento dos canais de informação, nem sempre culminam numa boa estória.
publicado por Vieira do Mar às 02:53
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Domingo, 6 de Novembro de 2005

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Não há que os vede!

Mães de pré-adolescentes ,*aqui vai um conselho grátis sobre como evitar rombos irreversíveis no orçamento doméstico.

Nunca, mas nunca!, façam o chamado avio mensal, que é como quem diz, nunca encham o frigorífico após uma corrida ao hipermercado. Mais vale irem à mercearia da esquina e trazerem víveres aos poucochinhos, como quem usa senhas de racionamento, porque tudo o que eles encontrem lá dentro, eles comem. Se comprarem seis danoninhos, eles comem seis danoninhos, se comprarem doze, eles comem doze (e no mesmo espaço de tempo). Manteiga, convém que haja pouca, para que não barrem um papo-seco com meio pacote; donuts, nunca em caixas de seis, que voam tão depressa como as de dois (ou mais depressa, tal é o mochepara ver quem os come primeiro ). Nunca comprar um queijo Limiano inteiro, pois, neste caso, as fatias enfiadas no pão ou devoradas a seco (é o mais certo!), assumirão uma grossura pornográfica; é comprar um quarto e embrulhá-lho em camadas sobrepostas de película transparente, para dificultar o acesso. Fiambre da perna, então, nem vê-lo: uma embalagem de fatias fininhas e nem as sentem passar-lhes pelo estreito, deglutidas que são, de imediato, pelo primeiro que lá chegar. Chocolate em pó para o leite, é às caixas pequenas, de preferência onde não caibam colheres de sopa. Fritar só uma caixa de douradinhos a cada refeição porque, por mais que frite, não há quantidade que os vede, sobrando sempre lugar para mais meia dúzia, naqueles estômagos vorazes. O melhor é comprarem mesmo só uma caixa de dez, sejam fortes, resistam às caixas de vinte cinco mais um. Evitem iogurtes líquidos e sumos Compal, que eles sorvem como quem bebe um copo de água e com a mesma intenção: a de matar a sede (que nem sequer aquietam, como estábem de ver).
Mães, coragem, sejam forretas! Se não podem coser a boca aos vossos filhos, então, que lhes transformem o interior do frigorífico numa tundra fria e deserta e num desconsolo para a vista: ao fim de algum tempo, garanto-vos, eles estão a implorar-vos por fruta e sopa.

* adenda: também se aplica a adolescentes tout court. E a alguns maridos.
publicado por Vieira do Mar às 03:21
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Quinta-feira, 27 de Outubro de 2005

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Um filho doente

Como me apetecesse dizer mal, cortar na casaca, ser um bocadinho puta, enfim, telefonei a uma amiga. A custo, pediu-me que a desculpasse mas não poderia brincar comigo, pois tinha o filho pequeno bastante doente. Tipo castor hiperactivo, o arrependimento roeu-me os fígados e com eles construiu rapidamente uma represa. Quão estranho lhe deve ter parecido o meu palavreado solto!, assim como quem vê um estendal de roupa ao longe e ao vento, sem forma nem nexo... 
Porque, quando nos adoece um filho, suspende-se-nos a rotação do sol e da terra e tudo pára, como a bobina de um filme que se parte, a frame imobilizada no ecrã , com o galãparado, a caminho dos lábios para sempre entreabertos da sua amada.
No fundo, no fundo, sabemos que, láfora, as pessoas continuam a ir para os empregos, picam o ponto, discutem política nos cafés e pedem o prato do dia, mas são rituais que nos surgem distantes, improváveis, quase absurdos. O que resta da nossa existência, para além do filho-que-está-doente-e-tem-que-ficar-bom, passa a ser gerido em piloto automático, porque nós, na verdade, não estamos lá, abandonámos temporariamente o cockpit das coisas banais.
E os outros, quantas vezes sem perceberem que o ser humano que têm à frente não é mais do que um clone nosso, um fantoche que se faz passar por nós e que manda bitaites em reuniões importantes, confere o troco na caixa do supermercado e diz boa noite aos vizinhos, no elevador.
O medo que nos toma de assalto o estômago minimiza tudo o resto, desde dívidas por pagar a ofensas por vingar. Trepa-nos em espiral, como alguém que sobe a correr as escadas de um farol, e empurra-nos para cenários de horror terminal, confabulados a partir de uma constipação de merda.
A um filho doente, seguimo-lhe religiosamente as funções vitais: se não come, perdemos o apetite; se não dorme, forçamo-nos à vigília; se não lhe apetece brincar, não nos apetece ouvir música, ver um filme, fazer amor. Se nos desvia o olhar mortiço da história que à noite lhe lemos, nós, nem nos atrevemos a olhar para os títulos do jornal do dia.
Sacerdotisas dotadas, adivinhamos nas entranhas da fisionomia dele os mais pequenos sinais de recobro ou do contrário, e sabemos ser o silêncio o pior desses sinais. É então que queremos tanto!, voltar a estar fartos do barulho do rodado do triciclo no soalho, das birras ao fim da tarde e da avalanche de perguntas irrespondíveis, que nos abalançamos a qualquer coisa que rompa a insuportável quietude do nosso filho doente. 
E o tempo lá fora, suspenso, o relógio da nossa vida parado, àespera de corda. Na imensa e feliz maioria das vezes, tudo acaba sem deixar outras mossas que não as que se vão sobrepondo, em camadas de mil-folhas, no nosso arrítmico coração de pais e mães.
Mas só ao primeiro sinal de melhoras irreversíveis os vários lados da nossa vida desconchavada começam de novo a encaixar-se. É apenas então que, quais houdinis aliviados, nos libertamos das correntes que nos puxavam para o fundo e vimos à tona, expirando longamente as angústias monoxido-carbónicas-acumuladas. E a terra recomeça, lentamente, a girar.
publicado por Vieira do Mar às 03:18
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Domingo, 9 de Outubro de 2005

a precoce consciência das limitações

Miúdo de 9 anos amigo do meu filho: o Diogo gosta da Mariana R.!

Diogo: e tu gostas da Marta L.!

Eu: Ah sim? E é gira, a Marta L.?

Miúdo de 9 anos amigo do meu filho: É muita gira.

Diogo: Nem por isso. Por acaso, não é assim muuuuuita gira...

Eu: Ai não? Então em que é que ficamos: é ou não é gira?

Miúdo de 9 anos amigo do meu filho: Bem... é... mais ou menos. Giras, giras, são as de 18 anos, mas com essas não tenho hipóteses.
publicado por Vieira do Mar às 02:51
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Domingo, 25 de Setembro de 2005

a melhor amiga

A minha filha anda triste - de uma tristeza miudinha, inconfessada: zangou-se com a melhor amiga. E eu lembro-me bem - foi há tão poucos anos atrás! - do drama que era, uma briga com a minha melhor amiga, razão de tanta fungadela nocturna abafada na almofada e de tanta angústia matinal no caminho da escola.
Nestas idades pré-adolescentes, uma melhor amiga é muito mais do que um namorado ou uma irmã: é a alma gémea, é aquela presença constante, é tudo. Vivemos em estado de paixão pela melhor amiga, o que nos leva a ter ciúmes das atenções que dispensa a terceiros, principalmente às outras amigas - que não são as melhores, mas também são boas amigas.

A melhor amiga, não a queremos partilhar com ninguém e estamos atentas à menor manifestação de desatenção e descuido por parte dela, que não toleramos. É a nossa primeira manifestação de vontade de posse absoluta (fora do seio familiar), este desejo de guardarmos a melhor amiga no bolso.

Quando eu era miúda (e a minha melhor amiga, também), a gestão das confidências e dos desentendimentos era feita através de cartas, bilhetes e , às vezes, de telefonemas curtos; hoje, elas trocam-se acusações por email e pedidos de perdão no MSN; de resto, os afectos são os mesmos.
Podemos ter muitas outras amigas ao longo da vida - e mais do que uma melhor amiga-, mas, seja no singular ou no plural, anos depois, ainda sorrimos com carinho, à lembrança daquelas intimidades e risinhos partilhados numa cama para um, e das conversas sussurradas sobre o sabor e a forma dos primeiros beijos. E temos músicas, que associamos para sempre às cumplicidades vividas meio em segredo.

Às vezes, as melhores amigas são-no pela vida fora; outras, deixam de o ser num segundo, naquele segundo em que o nosso universo se desfaz numa espécie de poeira atómica e nós temos a certeza de que não mais conseguiremos ser felizes. Zangarmo-nos com a melhor amiga é a primeira verdadeira sensação de perda, a primeira cicatriz.
Na maior parte dos casos, afastamo-nos da melhor amiga aos poucos e sem bem sabermos porquê; um dia, os segredos passam a ser partilhados com outros e as camas para um, também. Na pior das hipóteses, a melhor amiga transforma-se numa maçada anual à mesa de um café ou de um restaurante e, então, só nos resta recordar, com um sorriso nostálgico, a amiga de outros tempos e deitar fora o seu número de telemóvel.


No fundo, a nossa melhor amiga é o nosso primeiro amor. Melhor: cada melhor amiga, é sempre um primeiro amor.
publicado por Vieira do Mar às 12:44
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Sexta-feira, 23 de Setembro de 2005

mudam-se os tempos, mudam-se os conceitos

(ou...ver a vida através dos olhos da PS2)


Diogo em frente ao televisor, a ver os Piratas das Caraíbas:


- Este filme tem gandas gráficos.
publicado por Vieira do Mar às 02:42
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Segunda-feira, 19 de Setembro de 2005

estratificação social

O de nove anos chega a casa com uma espécie de cordão de lã entrançado, amarrado ao pescoço, e uma argola fingida na orelha. Eu tremo, à ideia de poder estar a criar um futuro castelo branco, mas aguento-me à bronca, controlo o pânico e aguardo, pacientemente, pela explicação.


- Mãe, a partir de hoje sou dread.

- Ah sim? E o que é isso de ser dread?

- É não ser betinho.

- E o que é que é ser betinho?

- É não ser dread.

- Olha filho, tens de te esforçar mais um bocadinho para me explicares essa coisa na orelha, que assim não vamos lá. É que esses adereços parecem-me assim um bocadinho...bem, de menina.

- Mãe, meninas são os betinhos, os dreads são muito homens.


(pausa. inspira. expira)


- Então, usar brinquinho e colar é de homem, é isso?

- É.

- Pronto, está bem. Mas os betinhos e os dreads são diferentes uns dos outros, porquê?

- Então, os dreads falam de miúdas e de desportos radicais.

- Ah. Ok. E os betos?

- Os betos...bem, também falam de miúdas...


(pausa número dois)


- ... mas falam mesmo, mesmo é de roupas de marca.
publicado por Vieira do Mar às 21:39
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Domingo, 18 de Setembro de 2005

...

O primeiro dia

A primeira vez que largamos um filho no infantário, invade-nos a vontade de desatarmos a correr àprocura da figueira mais próxima, para nos enforcarmos, tal a culpa que nos assola. A desgraça costuma evoluir da seguinte forma: no primeiro dia, com a imaginação atiçada pelo esforço conjunto da família, os putos vão na expectativa de um lugar celestial, com brinquedos e meninos, para brincar e bater à discrição.
Chegam de coração aos pulos e são recebidos pelos sorrisos abertos de educadoras e auxiliares. Só que o colo daquela que-vai-ser-só-deles-enquanto-a-mãe-vai-trabalhar dura apenas 0, 0001 nanogésimo de segundo, rapidamente oferecido a um outro miúdo (que cedo constata a mesma coisa). É então que começam a torcer o nariz, mas que merda é esta, pá, quem são estes gajos todos iguais a mim ao colo da Isabel (elas chamam-se sempre isabéis, marias joões, cristinas ou sãos) ? Encorajado, porém, com o falso sorriso de confiança que a mãe e o pai lhe dirigem, lá vai ele, portão dentro, adeus, querido, porta-te bem, a mãe vem cedo, logo a seguir ao lanche... No primeiro dia quase todos (como não sabem bem, bem, o que os espera) ainda viram as caritas para trás e esboçam arremedos de sorrisos. Nos seguintes, porém, desenrola-se no seio familiar uma verdadeira tragédia grega, em vários actos e sem catarse à vista.
Conforme os feitios e as disposições, as criancinhas são levadas (algumas, literalmente, arrastadas) em lágrimas, aos gritos, aos soluços, num choque mudo ou (a pior hipótese, garanto-vos) num esforço brutal para não chorarem e não decepcionarem os pais, repetindo entredentes para si próprias: eu não vou chorar, eu não vou chorar... enfim, um tormento diário de olhos inchados, bibes ranhosos e pais desorientados, despojados de qualquer réstea de dignidade, a quebrarem as regras mais básicas de qualquer manual de psicologia infantil. Pais que não aguentam e invadem as salas, resgatando das garras das malvadas educadoras os filhos aprisionados, pais que compram um sorriso aos filhos com pernas de pau e pastilhas elásticas às nove da manhã, mães que aguardam horas dentro dos carros, mãos cravadas no volante, até uma alma caridosa vir cá fora garantir-lhes, jureumorrajáqui!, que o respectivo rebento estácalmo, arriscando processos disciplinares nos locais de trabalho, pode ir, mãe, pode ir que ele está bem...; mães que se reúnem no café ao lado exibindo, como troféus, os sorrisos arrancados na despedida, ele hoje já não chorou, só soluçou um bocadinho, pois a minha, até me disse adeus e sorriu para mim, só que vomitou logo a seguir... Bandos de galinhas infelizes que cacarejam as angústias pela manhã fora, em frente a bicas frias que não beberam (eu! eu!) e que, à tarde (depois de um dia em que não viveram e se limitaram a vegetar e a arrastarem-se pelas horas) desesperam de angústia se o trânsito as impede de estar lá às quatro em ponto, ai se o Filipe sai primeiro, o meu fica a pensar que já não o vou buscar, ai e se a educadora se vai embora e o metem da sala do lado, ai que está quase noite e ele ali... ai, ai, AI!.
Felizmente, alguns dias ou semanas depois, os miúdos resignam-se e muitos acabam, mesmo, por gostar, destarte alguns recuos e sossobros pelo meio. Mas lá que doem como o caraças, aqueles primeiros dias, que nós (e eles) nunca mais esquecemos, isso doem. Por isso, vai daqui uma ganda beijoca de solidariedade para com todas as mães e pais que, no presente ano lectivo, passam (ou já passaram, ufa!) por esta puta desta agonia.
publicado por Vieira do Mar às 03:29
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Quarta-feira, 14 de Setembro de 2005

no restaurante chinês

(tête a tête entre mãe e filho de nove anos)


- Então, Diogo, estás com vontade de voltar à escola?

- Estou!

- Tens saudades dos teus amigos? Da Mariana R. ?

(o apelido, essencial para o reconhecimento no micro cosmos social que é a primária, foi aqui omitido, por respeito ao bom nome da visada)
- Tenho.

(princípios de riso)

- Estás com saudades de namorar com ela?

- Oh mãe!... hoje em dia não se namora, anda-se.

- Ah. Pois. Claro. Anda-se.

(pausa)

- Olha uma coisa, e lá no colégio, onde é que tu e a Mariana nam...digo, andam? O que é que fazem?

- Nâo fazemos nada em lado nenhum que as contínuas não deixam, estão sempre atrás de nós.

- Nem um beijinho?

(risos, muitos risos)

- Nada, nem um! Nem sequer podemos dar as mãos.
- A sério?! Não acredito!

- Juro, não podemos. Quer dizer, só podemos durante os passeios de estudo, em que vamos aos pares.

- Ah, bom! Ao menos isso...

- Mas eu sou um desgraçado, mãe, não tenho sorte nenhuma: calham-me sempre as feias.
publicado por Vieira do Mar às 12:35
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Sábado, 10 de Setembro de 2005

no carro

Mãe e pai, rendidos a uma pianada clássica (Beethoven no seu melhor). Putos a secar. Às tantas, o Joãozinho:


- Ó Pai, põe aí uma música com mais guitarra, assim tipo tenenéu (gesto à Jimmy Hendrix), uma coisa mais rocker rolo...
publicado por Vieira do Mar às 20:37
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...

alguém que me os leve

Faço-me à praia, na urgência de esfoliar esta invernia que se me mantém colada à pele. Assim que a vislumbro ao longe inspiro fundo, para que o cheiro a iodo e algas me atinja o córtex, mas é então que me lembro de que estou no Algarve, suave Algarve, e não nas praias do Oeste que me correm nas veias, essas línguas de areia grossa (batidas por um mar intratável, amante de mau feitio), propriedade dos pulgões e das gaivotas, com escritura assinada no tempo dos dinossauros.
Célebres celebridades que ninguém celebra cruzam-se comigo ao longo do enorme passadiço em madeira que rasga a reserva natural, a caminho da barraca de praia mais in de Portugal, dispostas a pagarem cem euros por um robalo que o espertalhão do dono finge ter pescado com as próprias mãos.
Por entre os toplesses das estrangeiras e as guedelhas dos betos, miúdas de cor guardam crianças brancas, de seis meses, um, dois, cinco anos. Envergam batas de riscas abotoadas até ao pescoço, que asseguram aos outros que elas não estão ali para se divertirem e que não se atreverão a roubar um raiozinho, sequer, de sol.
Contemplo aquele quadro e algo lhe falta, como um fresco de Boticelli despojado de mulheres ruivas ou um óleo de Rubens sem matronas opulentas. Subitamente, como uma brisa fria que passasse, faz-se-me luz: falta ali humanidade, calor, bem-querença; não há tocar, nem acarinhar, nem afagar, apenas uma mão-trela que agarra as crianças e as impede de se afogarem, de engolirem areia ou de se queimarem com o sol.
Por sobre as pequenas cabeças louras que têm à sua guarda, as miúdas negras olham com apatia o cargueiro que passa ao longe, na linha do horizonte, como se este fosse atracar na praia e entregar-lhes em mão uma vida nova, trazida em contentor selado. Sonham com coisas, parece-me: um encontro prometido, talvez, uns ténis que viram numa montra; as crianças louras, essas, aceitam com indiferença, a indiferença de quem lhes dá a mão e, num sábado à tarde, momento do suposto reencontro dos afectos em família, brincam sozinhas, guardando as palavras e os olhares para si próprios.
E eu, que nunca fui mãe-perfeita, nem mãe-paciência, nem mãe-só-mãe;que tantas vezes, confesso, tantas vezes!, me disse que gostava de ter uma daquelas só para mim, sópara eles, são tão meigas com as crianças e tão pacientes, as pretas, as mãe-pretas;
eu, que gostava de voltar a pular numa discoteca, de poder gritar quando faço amor, de voltar a beber atécair e de ir a correr e, depois, mergulhar onda dentro sem cuidar de quem me seguisse, e de ficar a boiar e ser arrastada pela corrente como uma alforreca morta, e de poder adormecer na toalha molhada, uma bochecha com as marcas do turco e a outra escaldada pelo sol, e de não estar sempre vigilante, põe o chapéu, olha a onda, anda cá, não me atires areia, ai! alguém que mos leve;
eu,
ali, naquela praia, sinto que nos saiu o jackpot na máquina da vida, tlim, tlim, tlim, a mim e a eles, tlim, tlim, tilim, e que as moedas não param de cair, tlim, tlim, tlim, e que somos uns sortudos, nós, ali, a rebolarmo-nos na areia molhada e a oferecermo-nos prémios ao melhor croquete humano, num sábado à tarde de um dia de quase, quase Verão.
publicado por Vieira do Mar às 03:20
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Terça-feira, 30 de Agosto de 2005

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a fase tartaruga


Atormentada por uma consciência fransciscana que de quando em vez me morde as canelas citadinas, cedo sempre aos desejos de bicharada em casa (exceptuando insectos). Por isso, e depois dos costumeiros vá láaaa, não, sim, ohmãeee, não etc. e tal que isto já enjoa, lá entrámos na maravilhosa fase tartaruga.E é agora, com a transição para os habitats aquáticos, que a coisa se começa a complicar (água = bedunguice húmida = cheiro pestilento).Ainda por cima, os espertalhaços dos vendedores de hoje, sob a capa da mariquice politicamente correcta, impingem toda a espécie de luxos inúteis para os animaizinhos, tipo vitaminas-para-a-tartaruga-aguentar-a-hibernação, sais-minerais-para-aniquilar-o-cloro, filtro-a-motor-para-oxigenar-a-água e saibro-fervido-para-o-fundo-do-aquário. Sim: aquário! Porque hoje já não há cá aquela coisa das ilhotas de plástico com as palmeiritas verdes no meio, como no nosso tempo. Quer dizer, haver, há, mas eles descrevem-nas como sendo uma espécie de alcatraz para as tartarugas, taditas, que nem se podem mexer, nem nadar nem nada... e não há quem as compre.Como tudo acabou? Eu conto. Depois de uma hora com três crianças histéricas numa mini-loja para animais onde, se me virasse para um lado, pisava uma cacatua e se me virasse para o outro, esborrachava um coelho-anão, lá saímos com dois aquários próprios, quatro tartarugas e uma catrefada de sais minerais e vitaminas de fazer inveja a qualquer campanha de saúde da ONU em África. A escolha dos bichos não se mostrou fácil, afinal, as tartarugas são todas muuuuuuito diferentes umas das outras (como todos sabemos) mas, após quinze minutos de cócoras e quatro decisões sofridas, a escolha do nome revelou-se estranhamente fácil. A verdade é que, enquanto existirem pokémons (já são mais de quinhentos), nomes para animais nunca serão um problema...Agora, levantam-se-me desafios vários, a saber.Já consegui convencer a minha filha de que não é preciso dar-lhes aqueles camarõezinhos mal-cheirosos à boca com uma pinça, que as gajas sabem comer sozinhas (são parvas mas não tanto). A próxima etapa é convencê-los aos três de que a snorlax, a charmander e a mais-não-sei-quantas não precisam de comer duas vezes por dia, todos os dias (afinal, o raio dos bichos passam meses hibernados e em regime de manutenção mínima, porra!). Por último, tenho de lhes fazer ver (ai! cansaço...) que aquele cheirinho bom que agora exala do quarto deles, não é das cuecas nem das meias sujas que se amontoam ao canto da cama, mas sim do interior dos lindos e grandes aquários que teimaram em comprar e que levam litradas de água que mais parecem uns auto-tanques (e que são eles que têm de os lavar, como me prometeram e juraram) embora não apeteça nada porque naquele exacto momento está a começar mais um episódio dos morangos. Pois. Está-se mesmo a ver. É que é já a seguir.

(ganda totó. major totó, é o que eu sou. major).



adenda: o aquário-reptilário (porque uns t-rexes de plástico dão sempre arranjo numa casa e assim já podemos brincar ao onde está a tartaruga-wally?)


publicado por Vieira do Mar às 23:57
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Klube infantil

E lá estava eu, à porta de uma coisa chamada Klube, em Vilamoura, sujeita ao escrutíniopouco amistoso de um porteiro bronco, como uma perigosa ré armada em boazinha para sacar a precária, e a conseguir entrar graças ao assomo de magnanimidade da criatura, obviamente situada na base da cadeia alimentar.
Era a retumbante noite rastafari - mas na variante "noite dos bisnetos do Bob Marley ", pois que, até onde a minha vista de cota alcançava, aquilo era só crianças entre os catorze e os dezoito anos.
Com um gin tónico aguado no bucho, a sentir-me uma autêntica penetra e em risco sério de tédio mortal, dediquei-me ao estudo do comportamento social e da linguagem corporal dos muito jovensde hoje em dia. Concluí uma coisa: que eles não se sabem divertir (aqueles, pelo menos, não sabiam). Não sei se é do medo da Sida, se da erosão da heterossexualidade como comportamento dominante, se da ditadura do politicamente correcto, mas já não se engata como antigamente - o que não deixa de ser estranho atendendo a que, tanto elas como eles, são muito mais giros do que nós éramos (mais altos, mais magros, com menos acne e, decididamente, mais bem vestidos).
Verdade se diga que, em contraste com a beleza saudável e ginasticada que quase todos exibem, nota-se-lhes uma falta de vivacidade e de sensualidade que até assusta. Ele é rapazitos aos molhinhos de três e quatro, de ar mole e envergonhado, copo na mão, sem se darem ao trabalho de olhar com atenção as miúdas à sua volta e muito menos de, por exemplo, discutirem entre si a cubicagem das maminhas e dos rabos (o que não me parece nada normal); e ele é elas noutros molhinhos, diferentes e isolados, concentradas no reggae debitado por um trio que mais parecia de arrumadores subnutridos, a chuparem coca-cola e ignorando-os olimpicamente enquanto discutem o último colar comprado na feira. Estranho. Ah! E quase ninguém dança, vê-se que têm vergonha.Em resumo, falta galanço a esta miudagem, falta galanço, medem-se pouco, muito pouco e eu não entendo onde se esconde tanta hormona que, supostamente, deveria andar por ali aos pulos que nem pulgas em pelo de cão de água.
Então lembro-me de que tenho uma filha a caminho dos treze, e, subitamente, a aparente falta de líbido desta nova geração já não me parece assim tão má, que deus a mantenha e guarde, a estes santinhos.
Cerca da duas da manhã chega nova revoada de infantes, até parece que tocou para o recreio, e eu a rir desbragadamente com aquilo tudo, a ser observada e dissecada pelas miúdas à minha volta, como uma alien caída em Roswell.
Às tantas, a música muda para r&b, o meu marido agarra-me pela cintura e começamos a dançar a par. Bom. Sabem aquela cena do Madagáscar em que os animais são apanhados pela polícia na Central Station? Pois. Pouco faltou para que ligassem holofotes a apontar para nós, as sirenes começassem a tocar, os seguranças e o corpo de intervenção da PSP acorressem ao local, e se formasse um círculo de miúdos aterrorizados à nossa volta, de dedos apontados para as nossas pessoas aos gritos de ESTÃO AQUI! PAIS! PAIS! PAIS!
Felizmente, conseguimos fugir sem ser apanhados e fomos ao pão quente. Ufa. Quem disse que a generation gap não é uma coisa boa e desejável? Tá bem tá.
publicado por Vieira do Mar às 03:27
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Quinta-feira, 25 de Agosto de 2005

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regresso

take um

- Então, Joãozinho, portaste-te bem em casa dos avós?

- Às vezes sim, outras vezes não. Hoje, por exemplo, à hora do almoço, o avô ralhou porque eu tirei um bocado de atum da travessa e ainda não estávamos todos sentados à mesa.

- Pois, devias ter esperado.

- Mas é que eu estava a morrer de fome...

(pausa)

- Bem... a morrer a morrer de fome não estava, é só uma expressão de dizer, percebes?


take dois

- Olha, ontem na praia escorreguei numa rocha e fiquei a deitar sangue do joelho.

- Coitadinho! E estás melhor?

- Já estou bom, não tenho nada... as plaquetas trataram do assunto.

publicado por Vieira do Mar às 22:55
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Segunda-feira, 15 de Agosto de 2005

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E as aulas?

Onde estão? Quando começam as AULAS??? Só daqui a um MÊS??? (glup)


Eu juro

que nunca mais digo mal da professora de História

que nunca mais me queixo do preço dos cacifos

que nunca mais me esqueço de pagar o judo

que nunca mais reclamo das festinhas de fim de ano

que nunca mais me esqueço das reuniões de pais

que nunca mais me irrito com o porteiro (nem com o senhor da carrinha, aquele santo)

que nunca mais chateio a directora

que nunca mais digo que a comida do refeitório sabe a ração...

...mas que comecem as AULAS!!!!

publicado por Vieira do Mar às 23:43
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Quinta-feira, 4 de Agosto de 2005

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persuasão

(ou sou completamente comida e gosto)


- Mãe, compra-me um gelado.

- Não compro, porque tu depois não gostas ou fartas-te, como de costume, e depois deitas fora e estragas.

- Vá lá...

- Já disse que não.

- Pensava que eras uma mãe muito querida mas, afinal...

- Que sabores é que queres?
publicado por Vieira do Mar às 01:25
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Sexta-feira, 29 de Julho de 2005

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paz no mundo



“Dá-me isso, que é meu! não é nada, estava no chão do meu quarto, por isso é meu! és um troll, quando te apanhar a jeito vais ver! ai é ? então devolve-me a caderneta que te emprestei! não devolvo nada, se quiseres tenta tirar-ma, vais ver...mongo! e tu és uma baleia badocha e agora vou dizer à mãe quem é o teu namorado, ai vou! ai vou! atreve-te, anormal, nem sabes o que eu te faço! aiiiiii, mãeeeee, ela está-me a bater! e tu deste-me um pontapé no cotovelo, olha mãe, olha aqui a marca!..”

...
Estou convencida de que, se em vez dos paralelos de calçada que são o Bush e o Sharon, pusessem uma mãe de dois, três ou mais - uma qualquer, dessas que há para aí aos milhares pelo mundo - a tentar resolver, por exemplo, o conflito no médio oriente, já a terrinha santa se encontraria toda divididinha, as fronteiras bem demarcadinhas e cada um no seu canto, a viver contentinho e em paz.

publicado por Vieira do Mar às 16:48
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Pede-me para eu pôr na aparelhagem

o CD de O Rei Leão, eu ponho e ele começa a cantar e a saltar, todo contente, em cima do sofá. É um ciclo sem fiiiiiiiim que nos guiaráaaaa, hakuna matataaaa e por aí fora. Deixo-o a dançar e vou à cozinha. Quando volto, ouço uma música
instrumental triste e vejo-o deitado no sofá, de barriga para baixo, imóvel e de olhos fechados. Volto a sair, entro passado um bocadinho e ele continua lá, sem se mexer. E eu, Então, Joãozinho, não danças mais, estás cansado? E ele, Agora tenho de estar assim porque esta é aquela música que dá quando o pai do Simba morre, sabes?

Ah, ok.
publicado por Vieira do Mar às 07:12
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Quarta-feira, 27 de Julho de 2005

...

este miúdo começa a preocupar-me

- Mãe, preferias morrer ou viver com problemas?

(inspira, expira, responde)

- Ora João, que raio de pergunta! Viver com problemas claro, porque quando a gente morre, olha, acabou-se tudo para sempre, as coisas boas e as más.

(pronto, agora mudemos de assunto e sigamos pra bingo, pode ser?)

- Pois olha, eu preferia morrer.

(glup, eu sabia, eu sabia)

- Mas porquê, Joãozinho?!

- Porque não gostava nada de viver com problemas.

(inspira, expira, nova tentativa)

- Mas, já pensaste bem nisso? Se ficares vivo, fazes tudo por tudo para resolveres o teu problema e depois já podes viver à vontade, contente e feliz.

- Não posso nada.

- Não?!

(ai ai ai)

- Não, porque atrás de um problema vem logo outro.
publicado por Vieira do Mar às 01:08
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Sexta-feira, 22 de Julho de 2005

...

dos quatro dias que passámos na disneylandia,

o mais stressante foi mesmo a história dos "autógrafos" dos personagens Disney. Eu explico: à entrada vendem-se uns livrinhos em branco para que as criancinhas possam recolher os autógrafos de uns meninos e meninas que por lá andam, vestidos de Donalds, Mickeys, Minnies e afins, a distribuir beijinhos, adeuses e rubricas apressadas. Mas só a uns quantos afortunados, ou seja, àqueles miúdos que têm a sorte de espetar com o livrinho no focinho ratolas do Mickey e de este, por acaso, engraçar com eles e estar para aí virado. A coisa está cronometrada ao segundo para criar nas crianças uma apetência selvagem pelo rabisco do personagem: os gajos chegam de repente, ficam por cinco minutos, distribuem o que têm a distribuir de acordo com critérios insondáveis e depois ala que se faz tarde, indiferentes às súplicas de pais e filhos, deixando atrás de si um rasto de criancinhas de três e quatro anos a chorarem baba e ranho, de livrinho e caneta espetados em vão no ar. Adeus, adeus, agora não dá mais, chauzinho até depois. É cruel, pá, é cruel. Andava por lá um filho da puta de um pinóquio que eu, se pudesse, arrancava-lhe o narizinho e enfiava-lho num sítio que eu cá sei... por três vezes o Joãozinho se postou à frente dele e eu atrás do miúdo, feita idiota, please, please, je vous empris, pinóquiô, pinóquiô, e o sacana dava meia volta e desandava. Ainda hoje, o miúdo me fala no pinóquio e me pergunta porquê, porquê? Mas a justiça não dorme e eu tenho fé e mais não digo, para não parecer uma cabra vingativa. Bom, mas o que acontece então quando surge, por exemplo, o Pluto, no horizonte? Uma chusma de crianças à beira da histeria, seguidas pelas respectivas mães e pelos paizinhos, estes de máquina em riste, dispostos a tudo para captarem o momento. Como os mais pequenos ou, pura e simplesmente, os mais tímidos, não conseguem chegar à frente, as mães assumem-se furisosas guarda-costas e vai de furar a turba à cotovelada e de pespegar com o livrinho na tromba do personagem, no género assina-me esta merda e faz-me o puto feliz, se não parto-te os cornos, meu cabrão. Pelo caminho levam tudo a eito, o Diogo levou com uma cotovelada nos rins de uma italiana que até ficou com falta de ar. Aquilo é um espectáculo patético e muito humilhante, é o que vos digo, além de stressar os miúdos, que cedo se apercebem de que as suas chances são de uma num milhão. A estada cedo se transforma numa caça ao personagem disney.E o pior de tudo é que eu também entrei naquele jogo sujo e corri e chamei pela Branca de Neve, snow white, snow white, here! Here!, que o puto chorava porque só tinha dois autógrafos e os irmãos, uns cavalões descarados, tinham oito e eu, anda lá meu querido, se for preciso mato ou estropio, mas o estupor do Pluto há de apôr a patinha de peluche no teu caderninho, eu seja ceguinha. E pôs mesmo.O que me consola é pensar que estava um calor de assar passarinhos nas árvores e que todos os quidos bonequinhos que me rejeitaram os filhos coziam certamente, dentro dos seus fatinhos de pelúcia. E que hoje, amanhã e depois, ainda por lá andarão ( ao serviço de uma máquina de fazer dinheiro que vende magia a rodos mas que se está verdadeiramente cagando nos sentimentos das crianças). Oh yeah!
publicado por Vieira do Mar às 05:35
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Sofia Vieira

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