Sábado, 24 de Março de 2007

...

o efeito aipod



Primeiro veio Roswell, depois os x-files e os chips implantados na cabeça dos "levados", mas hoje existe algo muito mais poderoso e que derrete o cérebro dos adolescentes de toda a galáxia, dominando-os por completo: os leitores de mp3. Uns mini-coisos que se enfiam até ao ouvido interno, que os tornam escravos da música (ou, pelo menos, do que eles chamam música) e completamente autistas para o resto do mundo. Por exemplo, eu grito: “Beatriz! Beatriiiiiiiiz! Olha o tremor de terra! Abriga-te debaixo da viga mestra!” e ela ...nada. "Beatriiiiiz, tira os pés da água, olhó tsunami!"...nada. Qualquer tentativa de diálogo é recebida com a maior das indiferenças e o refrão trauteado do último lixo da MTV. O pior de tudo é nós, os outros, os não-adolescentes, termos igualmente que gramar com a alienação e o mau gosto musical, sob a forma de desperdício. E o que é o "desperdício"? O adolescente implanta os “phones” no ouvido interno no volume máximo, por forma a derreter o cérebro, e nós ficamos com os restos do som, uma espécie de “zzzzztpumhuuuuzpchchchchiiiiiiifssssss”, que não é música nem é batida, é apenas um ruído insuportável e irritante. E é claro que, quando vamos todos no carro, este barulho de fundo estraga a hipótese de qualquer outra sonoridade, portanto, rádio com música decente, esqueçam. Às vezes, dá vontade de bater repetidamente com a testa no volante. Beatriz, baixa isso... já baixei, mãe... baixa mais... assim não ouço, MÃE!...então desliga...Oh mãe.... Em dias especiais, quando me sinto especialmente preparada para a guerra (por exemplo, quando dormi bem ou depois de um fim-de-semana relaxado) resolvo dar luta: elevo o som do meu rádio, para não ouvir o desperdício dela; ela eleva o desperdício dela - carro, desperdício, carro, desperdício... DÁ-ME ESSA PORCARIA JÁ! (mãe, um, adolescente, zero).

Neste momento, tenho o pesadelo multiplicado por dois: um pré-adolescente e uma adolescente em descompensação hormonal. O primeiro, além do ruído de fundo vindo, não de Marte, mas dos guetos norte-americanos, ainda por cima, canta. E, coitadinho, meu rico filho, que dava a vida por ele, mas este meu filho do meio canta sempre na mesma nota e está sempre rouco. Parece uma retroescavadora lá muito ao fundo. Pior de tudo: como ambos estão quase sempre surdos, falam um com o outro e connosco a gritar, o que não contribui por aí além para a harmonia familiar. Para não os ouvir, olhem, comprei um Ipod. Daqueles cor-de-rosa, sabem? Lindo. Estou a adorar.

publicado por Vieira do Mar às 20:06
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Sofia Vieira

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