Vem aí a festa de Natal do mais novo,
o que arrasta inevitavelmente uma insuportável choradeira que faz mal ao coração e me tira anos de vida. É que não aguento, não sei. Na última a que fui, de fim de ano, o miúdo puxa da flauta a meio do coro, saca meia dúzia de notas com um evidente esforço interpretativo e eu tive que parar de filmar, pois os soluços eram tantos e tão audíveis que tremiam a imagem e abafavam a música. Não sei o que me dá quando vejo as minhas criancinhas nestas pueris exibições de talento; só sei que o auto controlo desaparece e eu fico para ali desamparada, a esconder o ranho e com um riso imbecil agrafado à cara, não vão eles pensar que eu estou é triste e desapontada, sei lá. É que, vamos lá a ver, o miúdo não é propriamente um Mozart ou um Michael Jackson em formato albino. Mas, só de o ver ali no coro, juro, com a vozinha sumida entre outras trinta vozes iguais, forma-se-me um nó na garganta, os olhos picam e as lágrimas escorrem, imensas e despropositadas. Escusado será dizer que morro de vergonha e que as minhas tentativas de disfarçar a emoção são ainda mais ridículas do que a choradeira em si, pois abro imenso os olhos para evitar as lágrimas, como se estivesse aterrorizada com o som de alguma nota mais pífia, e falo muito e alto, para mostrar que a minha agitação mais não é do que alegria. Imagino que os outros pais, pessoas geralmente de reacções normais e adequadas, à vista deste patético descontrolo, quiçá de origem hereditária, não me convidarão o miúdo para as festas de aniversário, receosos de que este desabe num pranto se se acabarem os croquetes na mesa.