Terça-feira, 4 de Março de 2008

...

o semi-deus


Para muitos, sou uma daquelas mães, tipo, desnaturadas, que não têm a menor paciência para acompanhar os filhos nos progressos escolares. Gosto pouco de preencher os hiatos deixados pela escola e de participar activamente na realização de trabalhos de casa, de trabalhos de grupo, de trabalhos em geral. Acho que, salvo um ou outro conselho ou tira-dúvidas, eles devem fazer as coisas sozinhos, pois a minha escolaridade já a fiz há muito tempo e não me apetece por aí além rememorá-la, além de que grandes ajudas neste domínio fazem mais mal que bem, pois as criancinhas não desenvolvem. Da mesma forma, acompanhá-los nas actividades extra-curriculares, agora tão de moda para os preparar para esta sociedade super-hiper competitiva, é geralmente uma seca. Por exemplo, as aulas de natação num passado ainda recente: um menino de dois anos, outro de cinco e uma menina de oito. Vestir, despir, touquinhas, calções, fato de banho, chinelos, tampões. Guardar tudo no cacifo, enviar um para cada piscina. Correr entre elas durante cinquenta minutos, espreitar no vidro para que cada um, quando olhasse para cima, visse a mãe babada a cada incipiente braçada e espanejadela à ganso (mas na verdade a ansiar por um café e uma revista no restaurante do lado). De repente, eu naquela correria e a aula já acabada. Ir buscá-los, a roupa molhada nos sacos, os duches, secar-lhes o corpo, vesti-los (calçar-lhes as meias, ah! como eu ODEIO calçar-lhes as meias…), secar-lhes o cabelo, tê-los prontos para saírem, por fim, carro, cadeirinhas, cintos. Chegar a casa a achar que poupei numa ida ao ginásio, pois já treinei o suficiente nas duas horas antes. Tenham dó: aquilo era um inferno. Agora já se vestem sozinhos, mas andam sempre a inventar coisas novas às quais é preciso ir pôr e buscar, o que é só por si uma enorme maçada. A algumas, somos até forçados a assistir e a dizer-lhes que são muito bons e que evoluíram imenso, enquanto pedimos mentalmente a Deus perdão pelo pecado da mentira. Assistir aos jogos, aos intermináveis jogos. De futebol, andebol, voleibol. Hoje é o ténis, amanhã o lacrosse. Ainda por cima eu, que detesto desporto em geral, e coisas com bola em particular. Houve, no entanto, uma altura em que a minha filha fez parte da equipa feminina de basquete da escola. Não jogavam nada e iam aos outros colégios levar trepas monumentais das outras equipas. Os jogos eram aos sábados de manhã, altura de ir à pastelaria tomar o pequeno-almoço, ficar a ler o Expresso e depois ir à praça – aquilo não dava jeito nenhum. Mas eu lá estava, indefectível, com a miúda para aqui e para ali, a apoiar, a incentivar, quase uma cheerleader do princípio ao fim dos jogos. É claro que, bom, para tanto, talvez tenha contribuído o facto de o setôr de ginástica (simultaneamente o treinador, o árbitro e o organizador-mor daqueles lamentáveis eventos) ser assim uma espécie de semi-deus. É que nem vos passa, juro.

publicado por Vieira do Mar às 17:17
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Sofia Vieira

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